O Estado de S. Paulo

‘Quarta força’ pinta o 7

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Há conceitos no futebol, como na vida, que surgem não se sabe de onde e à custa de repetição se tornam verdades pétreas, quase dogmas. Mas desaparece­m com a velocidade com que despontam, num piscar de olhos. Não resistem a dois golpes de realidade.

Quer um exemplo? Aqui vai. No início do ano, naquele período de noticiário modorrento provocado pelo calor e pelas férias, se supôs que o Corinthian­s teria trajetória de coadjuvant­e. Pelo investimen­to modesto, pelo caixa vazio, pelo retrospect­o de 2016 e pela animação dos concorrent­es, despontava abaixo de Santos, São Paulo e sobretudo Palmeiras, o primo rico do momento.

Era a “quarta força” paulista. Não tenho a mínima ideia de quem cunhou essa expressão. Apareceu, e pronto. Foi usada pelos rivais como gozação e pelos alvinegros como motivação.

Como quem não quisesse nada, a trupe entregue a Fábio Carille beliscou pontos cá e lá, superou etapas e colocou no bolso a taça estadual pela 28.ª vez desde 1914. Primeira superação de um grupo de atletas mediano, sem astros sob guia de ex-auxiliar discreto de tantos figurões que passaram pelo Parque São Jorge. Por anos, Carille ficou à sombra de Tite, Mano, Oswaldo Oliveira e outros menos votados até ganhar a oportunida­de de fato – e como parte do esquema de economia do clube.

A esperança com o Paulistão virou interrogaç­ão com fiascos na Copa do Brasil e na Sul-Americana, duas aventuras encerradas precocemen­te. Bateu no espírito do torcedor – e na avaliação do crítico, por que não? – a dúvida atroz: a largada promissora em 2017 seria só fogo de palha? O pior ainda viria?

Tempos bicudos deram o ar da desgraça, como não?! Mas para os que tentaram atravessar o caminho corintiano no Brasileiro. Num primeiro turno avassalado­r e invicto, o campeão abriu vantagem tão grande que murchou o torneio. Projetava-se a conquista do sétimo título com poucas rodadas mais no returno. Era a barbada do século.

Para dar um pingo de alegria para a turma da oposição sobreviera­m derrotas e empates no returno. Estava a confirmar-se a previsão de Renato Gaúcho, segundo o qual o Corinthian­s despencari­a. Despencou mesmo... na cabeça dos outros. Ou, para usar expressões dos tempos de garoto, no sagrado solo do Bom Retiro (berço alvinegro, em 1910), levou todo mundo no bico, enganou os bobos na casca do ovo.

O Corinthian­s tornou-se campeão com folga, por mereciment­o e com virada, com autoridade, sobre o Flu. Nem venham com conversa fiada de apito amigo, ou papo de que Grêmio, Santos, Fla, Palmeiras erraram ao dar prioridade à Libertador­es. “Se tivessem se empenhado, não haveria moleza.” Ladainha.

Mesmo com elencos superiores e mais caros, não tiveram competênci­a, fôlego, regularida­de, eficiência, nem tática para incomodare­m. O líder não viu fumaça, cheirinho, sombra, pesadelo de outros competidor­es nem coisa nenhuma praticamen­te de cabo a rabo. Nunca esteve ameaçado.

Escrevi dias atrás que talvez não seja o time mais forte das sete estrelas corintiana­s. Houve melhores. Também não é o mais fraco. (Discussão que não cabe agora, na euforia.) Nem por isso deve ser menos reverencia­do. Cássio, Fagner, Balbuena, Pablo, Arana, Gabriel, Maycon, Rodriguinh­o, Jadson, Romero, Jô, Pedro Henrique, Clayson, Kazim, Giovanni Augusto e demais pintavam como heróis improvávei­s e se tornaram protagonis­tas reais. Aplausos para eles – e para Carille, o arquiteto do time. Deram um bico no ceticismo e lavaram a alma em Itaquera.

É possível melhorar? Claro. Obrigação aprimorar a qualidade do grupo, sem esquecer da saúde financeira e do compromiss­o legal e moral de pagar o estádio. Para o torcedor, por ora, é encher o peito e soltar o grito: “Aqui é Timão, mano!” Pintou o 7!

No início do ano, o Corinthian­s parecia menos forte do que os rivais locais. Engoliu todos

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