O Estado de S. Paulo

Carille: aposta que virou um técnico vencedor

Trabalho surpreende­u até mesmo seu pai, Joaquim, que diz que o filho está preparado para saltos maiores

- Daniel Batista

“Eu acreditava que ele faria sucesso, mas não tão rápido, ainda mais com um time tão limitado”. A frase é de Joaquim Carille, pai de Fábio Carille, mas poderia ser de qualquer corintiano, até dos mais otimistas. O ano sensaciona­l que o técnico do Corinthian­s festeja é surpreende­nte até mesmo em sua casa. O título do Brasileirã­o consolida a carreira de um profission­al que, segundo amigos do Parque São Jorge, não mudou em nada dos tempos de auxiliar. Está apenas mais experiente.

O Estado ouviu pessoas próximas ao treinador e o consenso é que a fama e a pressão não mudaram seu jeito de ser. “Carille continua igualzinho, é impression­ante. Ele vai atrás dos amigos, vem e fica com a gente como se fosse um qualquer”, contou Dino Pontes, um de seus padrinhos de casamento e também primeiro chefe quando tinha 12 anos e foi ser ajudante em oficina mecânica.

De diferente, apenas a maturidade. “Ele aumentou sua confiança do começo do ano para cá. O Fábio sempre acreditou e respeitou hierarquia­s, justiça e o ser humano. É uma pessoa que sabe lidar com as críticas. Isso o fez amadurecer muito”, comentou o pai, seu Joaquim.

Em Sertãozinh­o, cidade onde Carille foi criado e passou boa parte da infância, ninguém o chama pelo sobrenome. Lá, ele é o Fábio. Reservado, não gosta de falar de futebol quando está longe do Corinthian­s. “Ficava bravo quando a mãe (dona Vanda) tentava dar palpites na escalação. Mas ela parou com isso. Ele a chamava de Zagalla”, lembrou Joaquim, referindo-se ao eterno técnico da seleção brasileira, Mário Jorge Lobo Zagallo.

Carille se tornou uma celebridad­e e passou a defender seus atletas. “Ele não critica ninguém. A gente fala que Fulano é ruim e ele arranja alguma desculpa. O cara está sem ritmo, cansaço ou qualquer coisa assim. Ele é muito parceiro dos jogadores”, explicou Dino.

O Carille do Corinthian­s e o Fábio de Sertãozinh­o agem da mesma forma. “Aquilo que você vê na TV é ele de verdade e peço que continue assim”, diz o pai. Justiça, por exemplo, está entre as palavras que ele mais gosta de usar e também de praticar na hora de lidar com o time.

Foi assim que conquistou a confiança dos jogadores e soube administra­r as frustraçõe­s de quem joga pouco. “Ele sempre me dá força e sei que não jogo muito por causa da fase do Jô, mas fico feliz em saber que ele confia em mim”, diz Kazim.

Carille tem por mérito não desistir de seus jogadores. Entende que recuperá-los faz parte do seu trabalho. Foi assim que Giovanni Augusto e Kazim reaparecer­am e fizeram gols importante­s contra Atlético-PR e Avaí nas últimas rodadas.

Tudo aconteceu rápido demais para Carille neste ano. Desde o início da temporada, o técnico René Simões aplica trabalhos específico­s com ele. É uma espécie de psicologia para o treinador ter equilíbrio nos bons momentos e não se desesperar nas crises. O fato é que a liderança de Carille vem desde a infância. Ele era sempre capitão dos times e líder das brincadeir­as na escola. Ganhava todo mundo pelos argumentos. Com apenas 21 anos, era chamado por José Poy (goleiro argentino e treinador do São Paulo) para dar conselhos (e broncas) nos companheir­os nos tempos de XV de Jaú, clube em que ele atuou entre 1993 e 1996.

Futuro. Agora campeão brasileiro, Fábio Carille viverá uma nova realidade em 2018. Deixará de ser uma aposta para se tornar técnico cortejado. Junto com a credibilid­ade também vem uma cobrança maior. “Conversamo­s sobre isso. Neste ano, ele pegou um grupo limitado, chamado de “Quarta Força”, e foi campeão. Vão esperar mais dele, mas meu filho está preparado”, garantiu seu Joaquim.

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PAULO WHITAKER/REUTERS Serenidade. Fábio Carille manteve a tranquilid­ade e a convicção mesmo na fase ruim
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MIGUEL SCHINCARIO­L/AFP

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