Credores dizem que Venezuela deu calote na dívida
Cerco ao chavismo. Decisão tomada por unanimidade em reunião nos Estados Unidos dificulta a obtenção de créditos internacionais, agrava a crise econômica venezuelana e coloca mais pressão sobre o governo do presidente Nicolás Maduro
Credores da Venezuela anunciaram que tomaram calote de US$ 200 milhões do governo e da estatal petrolífera PDVSA. O anúncio do grupo, que tem entre seus membros os bancos JP Morgan e Goldman Sachs, deve agravar a crise do país e aumentar a pressão sobre Maduro.
A Associação Internacional de Swaps e Derivados (Isda, na sigla em inglês), que reúne credores da dívida venezuelana, anunciou ontem, em reunião em Nova York, que tomou um calote do governo da Venezuela e da estatal petrolífera PDVSA. “O grupo decidiu que houve um default de pagamentos”, afirmou a Isda, em um curto comunicado.
Na terça-feira, duas agências de classificação de risco, a Fitch e a Standard & Poor’s, já haviam declarado o default parcial da dívida da Venezuela e da PDVSA, depois que o governo do presidente Nicolás Maduro não conseguiu pagar US$ 200 milhões em bônus globais. Os títulos da estatal representam 30% da dívida total do país, que chega a US$ 150 bilhões.
Entre os membros do comitê da Isda estão bancos e grupos financeiros como JPMorgan, Goldman Sachs, Elliott Management, Citadel e Alliance Bernstein. A decisão que determinou o calote foi tomada por unanimidade – 15 votos a 0.
A medida deve acionar o pagamento do seguro conhecido como CDS (Credit Default Swaps), que remunera o segurado quando ocorre o calote. Provavelmente, a sentença vai agravar ainda mais a crise econômica da Venezuela, que já passa por uma severa restrição de créditos internacionais. Segundo empresas de consultoria, o valor total pago pelo CDS pode chegar a US 1,3 bilhão. Detalhes sobre como o mecanismo funcionará ainda serão anunciados pelo comitê da Isda, que se reunirá na segunda-feira em Nova York.
Dependência. A Venezuela vive a pior crise econômica de sua história, que se agravou com a queda dos preços do petróleo, em 2014. A produção petrolífera é praticamente a única fonte de moeda forte do país, o quinto maior exportador mundial de petróleo. Os venezuelanos produzem cerca de 3 milhões de barris diários e comercializam 2,5 milhões, especialmente para EUA e China. A venda do produto é responsável por até 95% das receitas de exportação.
A queda do preço internacional do petróleo significou a diminuição da capacidade de investimento do Estado. Para priorizar o pagamento da dívida, Maduro deixou de ofertar dólares para produtores de alimentos e para a importação de remédios, o que aumentou a escassez de produtos de primeira necessidade no país.
No início do ano, para honrar seus compromissos, o governo chavista recorreu a financiamento externo da Rússia, da China e de bancos americanos. No entanto, as sanções impostas pelos EUA, em agosto, tornaram mais difícil para os venezuelanos renegociarem suas dívidas e obterem mais crédito.
A Venezuela tem apenas US$ 9,7 bilhões em reservas internacionais. O montante, segundo analistas, seria insuficiente para o país honrar seus compromissos no curto prazo: US$ 1,47 milhão em juros de títulos, até o fim do ano, e mais US$ 8 bilhões que vencem em 2018.
Na quarta-feira, a Venezuela parecia ter conseguido um respiro ao anunciar um acordo para refinanciar sua dívida com a Rússia, um de seus principais credores. Na ocasião, uma delegação liderada pelo ministro venezuelano das Finanças, Simon Zerpa, acertou com autoridades russas a reestruturação da dívida de US$ 3 bilhões contraída em 2011 para compra de armas.
Em ordem. Ao longo da crise, o governo chavista tem se esforçado para vender uma imagem responsável e, até ontem, insistia que estava honrando seus compromissos. “Começamos a pagar os juros da dívida da Venezuela e, na semana passada, a PDVSA começou a pagar seus compromissos também”, disse o ministro venezuelano da Comunicação, Jorge Rodríguez. “Somos bons pagadores, ao contrário do que dizem as agências de risco, o Departamento do Tesouro e o presidente Donald Trump.”
Pouca gente acreditou. Tanto a Fitch quanto a Standard & Poor’s afirmam que dificilmente o país terá condições de pagar o que deve justamente em razão das baixas reservas internacionais, do alto valor dos próximos compromissos devidos e das sanções impostas pelos EUA, que impedem instituições financeiras de realizar transações com os venezuelanos, entre as quais empréstimos e refinanciamentos de títulos já existentes.