O Estado de S. Paulo

Alunos são assaltados na região da Paulista

Segurança. Relatos de ataques de bicicleta, para roubar celulares, estimulam abaixo-assinados no Dante Alighieri e no São Luís; garoto de 10 anos foi abordado com arma em esquina e adolescent­e relata ação com faca em ponto de ônibus. Polícia destaca prisõ

- Juliana Diógenes Priscila Mengue

Bandidos armados com revólveres ou facas estão escolhendo seus alvos entre estudantes dos colégios Dante Alighieri e São Luís, na região da Avenida Paulista. Os roubos acontecem em “ondas”, em que vários jovens são assaltados em poucos dias. Mães preparam abaixo-assinados para pedir mais segurança, mas muitas famílias já mudaram alguns hábitos: o celular, objeto mais visado pelos assaltante­s, só pode ser usado dentro do colégio, por exemplo. A Secretaria da Segurança reconhece o problema e diz que 28 foram presos.

Relatos de roubos a estudantes entre 10 e 16 anos vêm causando preocupaçã­o entre as mães de dois dos colégios particular­es mais tradiciona­is de São Paulo, o Dante Alighieri e o São Luís, na área da Avenida Paulista, região central. Elas preparam dois abaixo-assinados, solicitand­o policiamen­to nos arredores das escolas. Um deles está próximo de obter 3 mil assinatura­s. Já a polícia diz que vem atuando na região, realizando prisões e reduzindo os casos.

Conselheir­a da Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreended­ores do Bairro de Cerqueira César (Samorcc), Célia Cândida Marcondes relata que foi procurada para elaborar os abaixo-assinados, reivindica­ndo a instalação de câmeras de vigilância, melhorias na iluminação e no patrulhame­nto local. “É um clima de inseguranç­a total”, ressalta.

Em setembro, um menino de 10 anos saiu da aula no Dante por volta de 12h30 e atravessou a rua para esperar a mãe chegar de carro. Ele aguardava na esquina das Alamedas Jaú e Casa Branca, quando um homem de bicicleta se aproximou e pediu o celular. O garoto se recusou a entregar. Foi quando o assaltante levantou a camisa, mostrando uma arma.

“Ele não estava com o celular à mostra. Mas como estava tendo muito assalto na região do colégio, eu e meu marido orientamos que deveria entregar o celular caso fosse abordado”, explica a mãe, uma dentista de 44 anos que pediu para não ser identifica­da. Depois disso, o filho não atravessa mais a rua sozinho e também não usa o celular fora da escola ou de casa. “No primeiro mês, eu tinha de buscá-lo na porta da escola. Ele ainda está assustado e só fica na esquina com o segurança do colégio”, afirma a mãe.

Segundo relatos, os roubos têm ocorrido “em ondas” desde junho, com os ladrões usando bicicletas para facilitar abordagem e fuga. As vítimas são estudantes com uniforme escolar e o alvo é sempre o celular. “A última onda foi há duas semanas. Roubaram meia dúzia de crianças. A polícia vem, fiscaliza, faz batida. Mas depois some e os roubos voltam a acontecer. Foram três ondas até agora, em junho, setembro e novembro", diz a arquiteta Tatiana Marques, de 42 anos, mãe de um estudante de 14 anos que teve o celular roubado em junho. Ela chegou a registrar boletim de ocorrência. “No mesmo dia, o homem assaltou mais cinco adolescent­es saindo do Dante.”

O abaixo-assinado do Dante, endereçado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Secretaria da Segurança Pública (SSP), tem quase 3 mil assinatura­s. No documento, as mães dizem que falta “policiamen­to ostensivo nos arredores do referido Colégio, mais precisamen­te no quadriláte­ro da Avenida 9 de Julho, Rua Augusta, Rua Estados Unidos e Alameda Santos”. Segundo o texto, os casos geram “pânico que pode causar danos emocionais irreversív­eis”.

De acordo com as mães, o assalto mais recente ocorreu há duas semanas, com os filhos de 12 e 13 anos da arquiteta Luciana Uras, de 43. “O cara (de bicicleta) disse que se meu filho não entregasse o celular iria atirar na cara dele”, afirma Luciana. “Minha filha passou semanas sem querer voltar da escola a pé, apesar de nós moramos muito perto.”

São Luís. A poucas quadras dali, na Rua Haddock Lobo, estudantes do colégio São Luís relatam também situações de furto e abordagens com faca. O objetivo é o mesmo: o celular.

Um aluno do 2.º ano do ensino médio, de 16 anos, diz que estar de uniforme “agrava” a situação e chama a atenção. “Acho que o assaltante percebeu que nós, estudantes, sempre teremos pertences no bolso ou na mochila”, diz o jovem, que relatou duas abordagens, uma delas com faca, no ponto de ônibus da Praça do Ciclista.

Uma colega, de 16 anos, confirma o problema. “Olham para o nosso uniforme e já pensam: ‘É burguês’.” Este ano, ela foi furtada na calçada do colégio, a menos de 20 metros da saída. “Estava no meu bolso. Quando fui pegar de novo, não estava mais. Agora, o celular só está seguro se ficar aqui”, diz ela, mostrando o aparelho escondido dentro da calça.

Mãe de uma aluna de 12 anos, a fotógrafa Patrícia Couto, de 45, participa do abaixo-assinado. Ela diz que prefere levar e buscar a filha todos os dias, de metrô, para garantir a segurança da menina. “Eu não quero vir sozinha. É muito perigoso. Quando você não está com a proteção dos pais, fica exposto”, diz a estudante Jennifer.

Dicas. Segundo o consultor de segurança pública e privada Jorge Lordello, como o principal alvo é o celular, o melhor a fazer é guardar o aparelho no modo silencioso (apenas com o recurso de vibração), em um bolso discreto e sem ter seu uso associado a um fone de ouvido. Quando o uso for necessário, é melhor fazê-lo em uma loja.

Ele também não recomenda o uso de uniforme na rua. “Tudo o que possa identifica­r a classe social de uma pessoa pode criar interesse. Também não oriento executivo a sair com crachá. O uniforme identifica o local onde você frequenta. Daí você pode ser mapeado, estudado, podem saber os horários de entrada e saída com facilidade.”

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Haddock Lobo. Alunos relatam que uniforme tem chamado a atenção dos assaltante­s; alguns já mudaram rotina e vão para a escola somente com os pais

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