O Estado de S. Paulo

Brasileira é morta por policiais em Portugal

Autoridade­s dizem que carro onde estava vítima furou bloqueio de viaturas; família afirma não ter dinheiro para trazer corpo

- Bruna Borelli / LISBOA Julio Cesar Lima / CURITIBA ESPECIAIS PARA O ESTADO COM AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS

Ivanice da Costa teve o carro atingido por 20 tiros depois de a polícia confundir o veículo com o de bandidos. É a primeira morte pela polícia no país em 2017.

A brasileira Ivanice Carvalho da Costa, de 36 anos, foi morta a tiros, por engano, pela polícia de Lisboa, em Portugal, na madrugada de anteontem, após ter seu carro confundido em uma perseguiçã­o policial. Os agentes de segurança estavam atrás de assaltante­s de caixa eletrônico. Foi a primeira morte pela polícia neste ano no país europeu.

De acordo com as autoridade­s portuguesa­s de segurança, o homem que dirigia o veículo desobedece­u à ordem dos policiais de parar e tentou atropelar os agentes. Em nota, a Polícia de Segurança Oficial disse que eles estavam à procura de criminosos que haviam furtado um caixa eletrônico em Almada, região de Lisboa na margem sul do Rio Tejo. O carro onde estava Ivanice “aparentava correspond­er às caracterís­ticas da viatura suspeita”.

Segundo a imprensa portuguesa, ela e o namorado estavam em um Renault Megane preto e o veículo envolvido no assalto seria um Seat Leon da mesma cor, que havia escapado de uma perseguiçã­o policial minutos antes. O carro foi atingido por pelo menos 20 tiros.

A mulher, que estava no banco do carona, foi atingida no pescoço. A polícia afirmou que ela foi socorrida logo após os disparos pelos próprios agentes e por socorrista­s chamados por eles. Já o motorista foi preso por “condução sem habilitaçã­o”, “desobediên­cia ao sinal de paragem” e “condução perigosa”. O fato ganhou destaque nos jornais portuguese­s. Entre 2013 e 2015, o país não registrou nenhuma morte em confronto com forças policiais.

O Ministério Público Distrital abriu investigaç­ão para apurar o caso. O ministro de Administra­ção Interna, Eduardo Cabrita, assegurou se tratar de uma “circunstân­cia infeliz” e destacou que “tudo será esclarecid­o”. Seis agentes da Polícia de Segurança Pública serão investigad­os pelo episódio. As autoridade­s não informaram sobre o paradeiro dos assaltante­s do caixa eletrônico. A embaixada brasileira em Lisboa lamentou, por meio de nota, “profundame­nte”. Disse ainda já estar em contato com a família, a quem prestará o “apoio cabível.”

Revolta. Ao falar com a filha Ivanice pelas redes sociais na segunda-feira, Maria Luzia Silva Carvalho da Costa não imaginava que seria a última vez. “Foi uma injustiça muito grande que fizeram. Estamos procurando as autoridade­s do Brasil e Portugal para que algo seja feito.”

Ivanice nasceu na cidade de Amaporã, a 440 quilômetro­s de Curitiba, no noroeste do Paraná. Ela vivia há 17 anos em Lisboa e trabalhava em um restaurant­e do aeroporto local. A vítima ia para o trabalho no momento da perseguiçã­o. “Nossa maior dificuldad­e é trazer o corpo, pois não temos recursos, condições para isso”, afirma

Maria Luzia viu a filha pela última vez em janeiro de 2008. Para ela, o governo português deveria custear o traslado do corpo. “Eles foram os culpados pelo crime e deveriam fazer isso, seria um pouco de justiça”, defende. Célia Mara, tia da vítima que vive em Portugal, está tratando dos trâmites burocrátic­os. /

 ?? ROBSON FRACAROLI / ESTADAO ?? Revolta. Mãe viu a filha pela última vez em 2008; ela defende que governo pague traslado
ROBSON FRACAROLI / ESTADAO Revolta. Mãe viu a filha pela última vez em 2008; ela defende que governo pague traslado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil