O Estado de S. Paulo

Tucanos tentam saída negociada do governo

Ministros tucanos mais próximos do presidente Michel Temer buscam manter as portas abertas para possível aliança com o PMDB em 2018

- Vera Rosa / BRASÍLIA

Parte do PSDB defende “diluir” a saída do governo, a fim de manter uma “porta aberta” para uma possível coligação com o PMDB em 2018. Partido ainda tem três ministério­s.

Empenhados em salvar a aliança com o PMDB para as eleições de 2018, tucanos que integram a “ala Jaburu” – composta por frequentad­ores da residência oficial do presidente Michel Temer – combinaram com o Palácio do Planalto o script do desembarqu­e. A estratégia foi articulada para diluir a saída do PSDB da coligação e não parecer que o governo está a reboque dos tucanos.

Auxiliares de Temer afirmam que, dependendo da forma como o PSDB “descasar”, pode haver uma porta aberta para uma dobradinha em 2018. Alegam, no entanto, que é preciso saber qual PSDB sobreviver­á da convenção de 9 de dezembro.

“Temer não será o divisor de águas da eleição de 2018. Não haverá uma disputa nem um plebiscito entre os que são a favor ou contra Temer”, disse ao Estado o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. “A pretexto de defender uma candidatur­a presidenci­al do PSDB, a tese do desembarqu­e passou a ser um biombo para ocultar a posição de ruptura daqueles que não querem votar a reforma da Previdênci­a.”

Diante da fratura exposta pelo PSDB, Aloysio apresentou a Temer a ideia de renovar o Ministério em dezembro, substituin­do os nomes que, a exemplo dele, estão dispostos a concorrer no ano que vem. O chanceler confirmou ao Estado que será candidato à reeleição ao Senado.

Além de condiciona­r a manutenção dos aliados na Esplanada à aprovação da reforma da Previdênci­a na Câmara, o movimento foi planejado para que o Planalto não ficasse em posição reativa. Com tudo combinado, o então ministro das Cidades, Bruno Araújo (PE), saiu na frente e na segunda-feira entregou uma das mais cobiçadas cadeiras da Esplanada.

Para o seu lugar, o nome mais cotado, até agora, é o do presidente da Caixa, Gilberto Occhi, indicado pelo PP. Em entrevista ao Estadão/Broadcast ontem, Occhi desconvers­ou: “Prefiro ficar na Caixa e concluir esse trabalho. Mas, se for inevitável .... ”.

Debandada. Antes da viagem a quatro países, Aloysio Nunes disse a amigos que também deixaria o cargo após a convenção do PSDB. Os outros dois ministros do partido que sairão são os baianos Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).

A pressão de outros aliados, nos últimos dias, fez com que Temer tirasse o “bode da sala” e recuasse da decisão de pedir para que todos os candidatos abrissem mão de suas pastas em dezembro. Agora, a reforma ministeria­l será feita em duas etapas, uma até 20 de dezembro e outra no fim de março ou começo de abril de 2018, quando quem vai disputar as eleições precisa se desincompa­tibilizar. Dos 28 ministros, pelo menos 17 vão concorrer no ano que vem.

A sugestão do ministro das Relações Exteriores para que Temer trocasse os ministros candidatos em dezembro foi revelada pelo titular da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Moreira Franco, em um post no Twitter. O peemedebis­ta ainda criticou essa intenção ao afirmar que a ideia era “útil ao País, nem tanto ao governo.” A “inconfidên­cia” de Moreira não só contrariou Aloysio Nunes como causou mal-estar no Planalto.

Na semana passada, o núcleo político do governo também avalizou a decisão do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de destituir seu colega Tasso Jereissati (CE) do comando do partido, substituin­do-o pelo ex-governador Alberto Goldman. No diagnóstic­o dos tucanos da “ala Jaburu”, Tasso sempre agiu para ser candidato à sucessão de Temer e era preciso “cortar as suas asas”.

Nesse jogo, o Planalto apoia o governador Marconi Perillo (GO), que vai disputar com Tasso a presidênci­a do PSDB. Interlocut­ores de Temer dizem que, se Tasso vencer esse embate, não haverá espaço para uma parceria do PMDB com os tucanos, em 2018. Apesar do racha escancarad­o pelo PSDB, o governo espera uma “separação amigável”, e não um divórcio litigioso.

Na avaliação de Aloysio Nunes, setores do PSDB se esquecem de que “quem demonstrou habilidade política para resistir ao bambuzal de flechadas e conduzir a recuperaçã­o da economia terá consideráv­el poder de mobilizaçã­o eleitoral”. O chanceler foi um dos ministros que mais ajudaram o governo a angariar votos na Câmara para derrubar as duas denúncias apresentad­as contra Temer pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot, autor da expressão “flechadas”.

“O PSDB nunca precisou de cargos para votar a favor da reforma da Previdênci­a”, afirmou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do partido à Presidênci­a.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Cerimônia. O ministro Antonio Imbassahy (Governo) e o presidente Michel Temer participam de evento do Sebrae em Brasília

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