O Estado de S. Paulo

Idealizado­r do Instituto Inhotim é condenado

Justiça Federal diz que o empresário Bernardo Paz lavou dinheiro usando o instituto que criou

- José Maria Tomazela SOROCABA COLABOROU ANTONIO GONÇALVES FILHO

A Justiça Federal em Belo Horizonte condenou o idealizado­r do Instituto Inhotim, Bernardo de Mello Paz, a 9 anos e 3 meses de prisão por lavagem de dinheiro. Segundo o MP, US$ 98,5 milhões repassados por um fundo para a manutenção do museu em Brumadinho (MG) teriam sido usados por empresas de Paz.

A 4.ª Vara da Justiça Federal, em Belo Horizonte, condenou o idealizado­r do Instituto Inhotim, Bernardo de Mello Paz, a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro. Na decisão, divulgada nesta quinta-feira (16), a juíza Camila Velano condena também a irmã dele, Virgínia Paz, a cinco anos e três meses de prisão, em regime semiaberto, pelo mesmo crime. A defesa de ambos já entrou com recurso.

Localizado em Brumadinho, na região metropolit­ana da capital mineira, o Inhotim é um dos maiores museus a céu aberto do mundo e muito conceituad­o sobretudo no exterior. De acordo com denúncia do Ministério Público Federal (MPF), entre 2007 e 2008, o fundo de investimen­tos Flamingo, sediado no exterior, repassou US$ 98,5 milhões para a empresa Horizonte, criada por Paz, para manter o Inhotim. O dinheiro, segundo a investigaç­ão, teria sido usado para pagamentos de compromiss­os de empresas de Paz.

A defesa de Paz e sua irmã afirma que todas as operações financeira­s são regulares e que a decisão deve ser revista na apreciação dos recursos pelo Tribunal Regional Federal em Brasília.

Centro de arte. Criado em 2004 pelo empresário Bernardo Paz, o Instituto Cultural Inhotim, em Brumadinho, a 60 quilômetro­s de Belo Horizonte, é, de fato, o mais exuberante centro de arte contemporâ­nea em todo o País, incluindo em seu acervo obras de importante­s artistas brasileiro­s, entre eles Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Tunga, e estrangeir­os como Matthew Barney, Chris Burden e Yoyoi Kusama. Essa exuberânci­a começa agora a ser investigad­a por seu lado mais sórdido: o uso de dinheiro público como fachada para negócios ilícitos e promoção social por meio da arte.

Colecionad­or de arte contemporâ­nea desde a década de 1980, o empresário Bernardo Paz tomou do banqueiro Edemar Cid Ferreira, ex-presidente do Banco Santos e da Bienal de São Paulo, hoje destituído de seu acervo, o título de maior investidor em arte do País. Ainda que Inhotim seja um lugar paradisíac­o para quem gosta de arte, com gigantesco­s pavilhões que rivalizam em tamanho com os maiores museus do Brasil, certo é que alguns acordos foram feitos entre o governo mineiro pelo Instituto Cultural para a realização de projetos de seu centro cultural.

Em 2009, o empresário Bernardo Paz foi acusado de participar de um esquema de fraudes que teria resultado num prejuízo de R$ 74,7 milhões ao governo mineiro. O Ministério Público excluiu posteriorm­ente a imputação do crime de formação de quadrilha, mas as investigaç­ões seguiram até a sentença judicial de ontem.

Nesse mesmo ano, o governo mineiro construiu uma estrada entre Barreiras e Brumadinho para facilitar o acesso a Inhotim, erguendo ainda uma ponte sobre o Rio Manso que custou, em 2009, R$ 2,5 milhões. Empresas estatais como a Petrobrás contribuír­am com as atividades do centro cultural. Bernardo Paz é irmão de Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério (operador do “mensalão). /

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DENISE ANDRADE/ESTADÃO - 24/4/2012 Mecenas. Bernardo Paz coleciona arte há 30 anos

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