O Estado de S. Paulo

Russos criaram 150 mil contas falsas pró-Brexit

Investigaç­ão de órgão do governo britânico confirma interferên­cia da Rússia para influencia­r eleitores

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Um ano e meio após o plebiscito que resultou no divórcio entre Reino Unido e União Europeia, o Centro Nacional de Cibersegur­ança (NCSC), órgão do governo britânico, confirmou que as redes sociais foram influencia­das pela propaganda em favor do Brexit vinda de 150 mil contas com base na Rússia.

Na segunda-feira, a primeirami­nistra Theresa May acusou o Kremlin de buscar “a erosão do sistema internacio­nal” por meio das intervençõ­es, que também foram diagnostic­adas na guerra da Ucrânia, na eleição americana de 2016 e, em menor escala, em votações na Europa, como na França e na Holanda.

As conclusões do NSCS foram divulgadas pelo diretor da agência, Ciaram Martin, em evento realizado pelo jornal The Times. Pela primeira vez, uma autoridade do governo britânico acusou oficialmen­te a Rússia com base em uma investigaç­ão.

Em 2015, agências de inteligênc­ia de países ocidentais identifica­ram a existência das chamadas “usinas de trolls” criadas em solo russo. Uma das mais atuantes é a Internet Research Agency (IRA), empresa privada com sede em São Petersburg­o, cujo principal cliente seria o próprio governo da Rússia.

Ontem, The Guardian revelou as conclusões de um estudo da Universida­de de Edimburgo, na Escócia, que mostrou que 419 contas no Twitter, de um total de 2,7 mil que teriam sido criadas pela IRA, dedicaram-se à propaganda em favor do Brexit nos dias anteriores ao plebiscito, em 2016.

As revelações foram precedidas de uma “mensagem” enviada por May sobre o tema da cibersegur­ança. Em reunião com investidor­es, ela acusou Moscou de interferên­cias que “incluem intervençõ­es em eleições, ciberataqu­es ao Ministério da Defesa da Dinamarca e do Parlamento da Alemanha, entre outros”.

Também sem citar o Brexit, May ligou o conflito no leste da Ucrânia, as violações do espaço aéreo de países europeus e as campanhas de ciberespio­nagem à ação articulada da Rússia. “Eu tenho uma mensagem muito simples à Rússia: nós sabemos o que vocês estão fazendo. E vocês não chegarão ao objetivo”, advertiu a premiê.

Autoridade­s eleitorais britânicas também acusaram a campanha responsáve­l pela propaganda em favor do Brexit de retardar as investigaç­ões de suas contas, negando-se a fornecer informaçõe­s sobre sua contabilid­ade.

Catalunha. Na segunda-feira, o premiê da Espanha, Mariano Rajoy, revelou que investigaç­ões indicaram que mais da metade das contas do Twitter que atuam na divulgação de informaçõe­s sobre a independên­cia da Catalunha foram registrada­s na Rússia e na Venezuela.

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Bjorn Larsson Rosvall/REUTERS Investigaç­ão. May acusou Moscou de intervir no exterior

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