O Estado de S. Paulo

Picciani e deputados são presos no Rio

Cadeia Velha. Ex-presidente da Alerj e dois parlamenta­res são presos por suposto envolvimen­to em esquemas de corrupção, mas colegas podem colocá-los hoje em liberdade

- Constança Rezende Fernanda Nunes Fabio Grellet / RIO

Jorge Picciani (foto) e mais dois deputados estaduais foram presos. A Alerj decide hoje se confirma ou revoga a decisão da Justiça.

Presos ontem por decisão unânime no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2), o presidente da Assembleia Legislativ­a do Rio, Jorge Picciani, o ex-presidente da Casa Paulo Melo e o presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça, Edson Albertassi, agora apostam em seus colegas de Casa para recuperar a liberdade e poderes. A Alerj se reúne a partir das 15 horas de hoje para decidir se confirma ou revoga a decisão dos cinco desembarga­dores federais que decretaram as prisões no âmbito da Operação Cadeia Velha. A ação investiga suposta corrupção no Legislativ­o Estadual.

Para o deputado estadual Eliomar Coelho (PSOL), a maioria dos deputados estaduais é aliada dos parlamenta­res presos. A proximidad­e indica que é grande a chance de eles revogarem a decisão da Justiça, conforme permite a lei brasileira. Mas, segundo o deputado, haverá grande pressão popular pela manutenção da decisão judicial.

Uma manifestaç­ão foi marcada para começar ao meio-dia, do lado de fora do Palácio Tiradentes, para forçar o Legislativ­o a não revogar as prisões. “Esperamos que essa pressão dê resultado, os deputados percebam que precisam atender a população e que as prisões sejam mantidas”, afirmou Coelho.

O deputado estadual Rafael Picciani (PMDB), filho de Jorge Picciani, afirmou que a Casa terá “sobriedade” e vai decidir pela libertação dos deputados. “Acredito que os deputados terão sobriedade para fazer essa avaliação das prerrogati­vas do mandato parlamenta­r independen­temente do mérito da questão. Pelo que conversei com os deputados, independen­temente dos crimes que estão sendo imputados, a questão que será deliberada será a possibilid­ade ou não de prisão”, disse.

Os três presos se apresentar­am à Polícia Federal ontem à tarde. Depois de exames no Instituto Médico-Legal (IML), foram conduzidos à Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio. No mesmo presídio estão o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e outros acusados de corrupção em seu governo, como o ex-secretário Wilson Carlos.

Antes da sessão plenária de hoje, a CCJ da Alerj vai examinar o caso, a partir das 13 horas. Será do colegiado o parecer a ser submetido aos parlamenta­res. Às 14h30, o colégio de líderes da Casa vai se reunir para acertar detalhes da votação, que deverá ser presidida pelo deputado petista André Ceciliano (PT), segundo-vice-presidente. O primeiro-vice, Wagner Montes (PRB), está licenciado, em viagem ao exterior. Avisou que tentará voltar para assumir a presidênci­a.

Acusações. Em seu voto pela prisão e afastament­o dos cargos, o relator do processo, Abel Gomes, foi duro. Afirmou que as provas recolhidas pelo Ministério Público Federal (MPF) demonstram que os três parlamenta­res estão envolvidos em esquemas de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro. Como as irregulari­dades permanecem, a prisão foi considerad­a em flagrante, como informou o TRF-2.

“Nossa decisão é problema nosso. A decisão da Alerj é problema dela”, disse o desembarga­dor Messod Azulay. “O desequilíb­rio fiscal (das contas do Estado do Rio, que vive profunda crise financeira) se deve a essas pessoas. Essas pessoas precisam ser lamentavel­mente afastadas do convívio da sociedade. Se tiver que submeter (a decisão do TRF-2) à Alerj, que se submeta, e a história que julgue.”

Na terça-feira, Picciani, que também preside o PMDB no Rio, Mello e Albertassi foram conduzidos coercitiva­mente pela PF para prestar depoimento na Cadeia Velha, um desdobrame­nto da Lava Jato. Ontem, o colegiado da 1.ª Seção Especializ­ada do TRF-2 se reuniu por volta das 13 horas para decidir se acataria o pedido de prisão feito pelo MPF. O mandado de prisão preventiva foi expedido imediatame­nte após a conclusão da sessão especial, por volta das 15 horas.

Os cinco desembarga­dores do colegiado – além de Gomes e Azulay, Paulo Espírito Santo, Marcelo Granado e Ivan Athié (presidente) – chegaram a debater se a Alerj tem o poder de suspender a decisão. Houve discussão sobre o precedente aberto pelo caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Ele foi liberado pelo Senado após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir por seu afastament­o do cargo e recolhimen­to noturno em casa.

O presidente do colegiado do TRF-2 enviou a notificaçã­o da prisão à Alerj. O procurador regional da República Carlos Alberto Aguiar antecipou, no entanto, que vai retornar ao tribunal para pedir o afastament­o dos três deputados dos cargos, caso a Casa derrube a decisão.

Picciani, Melo e Albertassi são suspeitos de manter “relações espúrias e promíscuas” com empresas de transporte público e com a Odebrecht, segundo o relator do processo. Somados, os subornos aos três deputados teriam passado de R$ 100 milhões, diz a Procurador­ia. “Há indicação suficiente­mente comprovada de que os três deputados receberam (dinheiro de corrupção) por anos a fio (em troca de favorecime­ntos)”, afirmou Gomes.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO
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FABIO MOTTA/ESTADÃO Deputado. Edson Albertassi também se apresentou à polícia ontem à tarde
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FABIO MOTTA/ESTADÃO Ex-presidente. Paulo Melo chega à sede da PF para se apresentar
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FABIO MOTTA/ESTADÃO Presidente. Jorge Picciani é levado ao IML após se apresentar na PF

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