O Estado de S. Paulo

Default afeta pouco o Brasil, que levou calote em setembro

Venezuela não pagou empréstimo­s dados por bancos para importar bens e serviços brasileiro­s

- Lu Aiko Otta Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

O anúncio do calote da Venezuela e de sua estatal petrolífer­a, a PDVSA, não foi exatamente uma surpresa para o governo brasileiro, que ontem à noite mapeava o impacto da decisão e as medidas a serem tomadas.

Uma primeira avaliação indicou que não houve alteração significat­iva do quadro para o Brasil, do ponto de vista financeiro. O Palácio do Planalto, o Itamaraty e o Ministério da Fazenda não se posicionar­am oficialmen­te sobre o caso.

Segundo fontes, o principal problema do Brasil com a Venezuela são as operações que transitara­m pelo Convênio de Créditos Recíprocos (CCR). No entanto, essas transações já estavam em calote desde setembro.

São empréstimo­s concedidos por bancos à Venezuela para que ela pudesse importar produtos e serviços brasileiro­s. Essas operações têm garantia do governo brasileiro. Ontem, assessores criticavam reservadam­ente a política externa das administra­ções do PT, que expuseram o Brasil ao risco de um calote do país vizinho.

De acordo com o Ministério da Fazenda, há uma parcela vencida dessas operações, referente ao mês de setembro, de US$ 262 milhões. O Brasil já informou sobre o calote ao Clube de Paris.

O calote venezuelan­o, anunciado ontem em Nova York, diz respeito a bônus do país em poder de credores internacio­nais. Do ponto de vista brasileiro, contudo, a Venezuela só será considerad­a em default caso não pague a dívida do CCR no prazo de 120 dias. Neste caso, o Tesouro honrará os valores por meio do Fundo Garantidor das Exportaçõe­s (FGE) e o Brasil passará a ser o credor da Venezuela. A Fazenda afirma que o FGE hoje é superavitá­rio. Ele possui US$ 1,1 bilhão.

O valor das dívidas venezuelan­as com garantia brasileira não foi informado. No entanto, segundo uma fonte consultada pela reportagem, esse valor é de aproximada­mente US$ 1 bilhão. Além disso, a Venezuela deve perto de US$ 4 bilhões a exportador­es brasileiro­s, sem a garantia do FGE.

O calote da PDVSA, que também foi declarado ontem, não tem impacto fiscal para o governo brasileiro, que não participou de operações envolvendo a estatal venezuelan­a, segundo apurou o Broadcast. Os créditos que trazem risco ao Tesouro Nacional não envolvem a estatal.

Maduro. Do ponto de vista político, integrante­s do governo brasileiro avaliaram que a declaração de default da Venezuela amplia as dificuldad­es para o presidente Nicolás Maduro. Ficará mais difícil ao país importar os produtos de que necessita, de alimentos e remédios a equipament­os, o que deve agravar ainda mais a crise econômica venezuelan­a.

Para uma fonte, essa situação crítica poderá contribuir para o enfraqueci­mento do governo chavista e favorecer o diálogo com a oposição. Na mão contrária, o Eurasia Group elevou ontem de 40% para 60% as chances de Maduro completar seu mandato, que termina em janeiro de 2019.

“O aprofundam­ento das divisões na oposição venezuelan­a e o controle institucio­nal total do governo devem impedir uma mudança política forçada na Venezuela no curto prazo”, disse a empresa de consultori­a política.

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