O Estado de S. Paulo

Nova legislação

Oposição tenta mudar reforma trabalhist­a

- Fernando Nakagawa Carla Araújo / BRASÍLIA

A oposição prepara uma série de emendas à Medida Provisória 808, que ajustou pontos da reforma trabalhist­a. A intenção é alterar o texto para tentar desfigurar a nova legislação que começou a vigorar no sábado. O governo reconhece riscos que podem, inclusive, ser criados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e prepara estratégia para a tramitação sob a liderança do senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Com a chegada da MP 808 ao Congresso, começou o prazo para apresentaç­ão de emendas ao texto – período que termina na próxima terça-feira, dia 21. Mesmo com a semana esvaziada pelo feriado de 15 de novembro, assessores jurídicos de vários partidos têm trabalhado a todo vapor para elaborar emendas que deverão ser analisadas durante a tramitação da MP.

Entre as emendas, muitas irão propor alterações que mudariam radicalmen­te a reforma. O PT, por exemplo, vai sugerir a adoção obrigatóri­a do salário mínimo para trabalhado­res intermiten­tes. “O salário mínimo precisa ser respeitado e o trabalhado­r deve receber pelo menos esse valor”, diz o líder do partido na Câmara, Carlos Zarattini (SP).

O contrato intermiten­te é encarado pelo governo como principal instrument­o para facilitar a formalizaç­ão de trabalhado­res no curto prazo ao permitir criação de vagas sem carga horária mínima, já que o empregado atua apenas quando é convocado. A regra atual exige que a hora paga a esse trabalhado­r seja o equivalent­e à fração de uma hora do salário mínimo ou R$ 4,46.

À disposição. A preocupaçã­o da oposição é que trabalhado­res intermiten­tes fiquem à disposição da empresa e cheguem ao fim do mês com salário próximo de zero. Um exemplo é o caso de uma franquia de lanchonete­s que anunciou vagas para trabalho de 5 horas aos sábados e domingos com salário de R$ 4,46 por hora.

Em um mês, esse trabalhado­r terá salário líquido de R$ 164,13, já descontada a contribuiç­ão de 8% (R$ 14,27) retida para a Previdênci­a Social. Mesmo com o pagamento de R$ 21,41 a cargo da empresa para o INSS (alíquota de 12%), seria necessário que o empregado desembolsa­sse por conta própria outros R$ 151,72 para completar o pagamento ao INSS, que exige contribuiç­ão mínima de R$ 187,40. Nesse caso, restariam R$ 12,41 ao trabalhado­r. “Esse tipo de vaga não pode prosperar”, diz Zarattini.

Outras iniciativa­s em elaboração passam pela derrubada da regra que prevê a partilha das custas do processo trabalhist­a – que deve desestimul­ar processos contra empresas; maior proteção à lactante que trabalha em local insalubre; fim da multa para empregado intermiten­te que não comparecer ao trabalho e criação de instrument­o para o financiame­nto de sindicatos. O Palácio do Planalto acompanha o tema e tem especial atenção à eventual ação de Rodrigo Maia contra a MP – já que o deputado contrariou Michel Temer e defendeu até o último momento que o ajuste da reforma deveria ocorrer por Projeto de Lei.

“O salário mínimo deve ser respeitado e o trabalhado­r deve receber pelo menos esse valor.” Carlos Zarattini LÍDER DO PT NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

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REPRODUÇÃO TV ESTADÃO-25/1/2017

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