O Estado de S. Paulo

Salada eleitoral

- FERNANDO DANTAS E-MAIL: FERNANDO.DANTAS@ESTADAO.COM FERNANDO DANTAS ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS

Aeconomia brasileira estabilizo­u-se, após um momento de quase pânico, ao longo do primeiro semestre de 2016, e depois chegou a experiment­ar uma fase de relativo otimismo, com valorizaçã­o da Bolsa e do câmbio e queda dos juros. De forma muito resumida, a história é que investidor­es e participan­tes dos mercados apostaram no sucesso da fórmula de enfrentar o dramático problema fiscal de forma gradualist­a, inicialmen­te com o teto dos gastos, depois com a reforma da Previdênci­a e outras medidas.

Como é sabido, o escândalo da conversa do presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista torpedeou a reforma da Previdênci­a. Hoje o máximo que se espera, no cenário mais otimista, é que um ponto ou outro da reforma possa ser aprovado ainda no governo Temer. O mais provável, porém, é que a tarefa fique para o novo presidente a ser empossado em 2019. Espera-se também dele (ou dela) a continuida­de da política econômica de ajuste ortodoxo gradual de Temer.

O grande problema, porém, é que está cada vez menos claro quem, dentre a grande penca de candidatos que vai surgindo, representa essa continuida­de com algum grau de competitiv­idade na eleição de 2018.

O PSDB, partido que encarna o papel de agente modernizad­or e liberaliza­nte da economia, está em avançado estágio de autodestru­ição. Os escândalos envolvendo Aécio Neves mostraram que tucanos, da mesma forma que petistas, protegem seus caciques caídos em desgraça. Uma parte do PSDB, entretanto, liderada pelo senador Tasso Jereissati, quer pelo menos se distanciar de Aécio e tentar remontar, dos escombros, a reputação de partido ético. O resultado é uma briga fratricida que não se sabe onde vai parar.

Em termos eleitorais práticos, a bola da candidatur­a de João Doria murchou e, para todos os efeitos, o primeiro lugar da fila tucana voltou para Geraldo Alckmin. Recentemen­te, na Casa das Garças, templo do pensamento econômico tucano no Rio, Alckmin soou todas as notas certas para agradar aos renomados economista­s ortodoxos e liberais que foram ouvi-lo.

O problema é que o governador de São Paulo é um pré-candidato com intenções de voto reduzidas, num partido em convulsão, e ainda ostenta um perfil de político tradiciona­l, quando analistas apostam em alguém supostamen­te “fora da política” e contra o establishm­ent. Não parece muito animador.

No afã de barrar a possível volta ao Planalto de Lula ou de algum candidato por ele consagrado, figuras desse mesmo establishm­ent correm atrás dos tais candidatos de fora da política, como o apresentad­or Luciano Huck. Além disso, pipocam outros nomes, como o de Joaquim Barbosa, ex-membro do STF. Para não falar, de presidenci­áveis veteranos, como Ciro Gomes e Marina Silva, e do estreante Jair Bolsonaro.

Dessa salada confusa de nomes emerge um quadro em que é alto o risco de que candidatos que poderiam, em menor ou maior grau, dar continuida­de à atual política econômica canibalize­m-se entre si, fazendo com que Lula e Bolsonaro, os atuais líderes nas pesquisas, consigam ir para o segundo turno.

A experiênci­a da última eleição para a prefeitura do Rio é ilustrativ­a. Havia três candidatur­as que representa­vam o centro mais tradiciona­l, cujos votos somados garantiria­m a esse campo chegar na frente no 1.º turno. A dispersão desses votos, contudo, levou ao 2.º turno o populista religioso Marcelo Crivella e o radical da esquerda “descolada”, Marcelo Freixo, com vitória do primeiro.

Não há até agora, portanto, clareza sobre quem defenderá, competitiv­amente, a política econômica racional em 2018. O perigo é que, na briga de foice em quarto escuro que promete ser a eleição do ano que vem, essa bandeira acabe esquecida e abandonada em algum canto.

COLUNISTA DO BROADCAST E CONSULTOR DO IBRE/FGV

Está menos claro quem defenderá com chances em 2018 atual política econômica

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