O Estado de S. Paulo

Inflação de pobre é menor que a de rico

Segundo estudo do Ipea, nos últimos 12 meses, a taxa das famílias mais pobres subiu 2%; já a das famílias mais ricas registrou alta de 3,5%

- Denise Luna Vinicius Neder / RIO

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou ontem um novo índice mensal para medir a inflação por faixa de renda, uma análise inédita no País que tem por objetivo identifica­r as diferenças de consumo entre famílias ricas e pobres. O índice foi dividido em uma escala de seis níveis, que vão de uma renda de até R$ 900 a uma renda maior que R$ 9 mil.

O Ipea identifico­u que nos 12 meses encerrados em outubro a inflação das famílias mais pobres (+2%) foi inferior à das famílias mais ricas (+3,5%). O motivo foi a queda no preço dos alimentos, item que mais pesa para a baixa renda junto com o aluguel, enquanto as famílias de renda muita alta sentem mais no bolso gastos com educação e planos de saúde.

“Os consumos são muito diferentes entre essas famílias e, por consequênc­ia, podem ter médias de inflação muito diferentes. Isso pode ser utilizado para várias coisas, como definição de políticas públicas e reajuste salarial mais adequado ao grupo de renda que a pessoa pertence”, disse o diretor de estudos e políticas macroeconô­micas do Ipea, José Ronaldo de Souza Júnior.

As famílias com renda mais baixa gastam em alimentaçã­o 2,5 vezes mais que as de renda mais alta. O custo dos alimentos para uma família pobre chega a 23% da renda, enquanto para uma família rica é de apenas 9% da renda, informou o Ipea.

Por outro lado, a educação pesa 8,8% na renda das famílias mais ricas e apenas 2% para as mais pobres. As despesas com serviços de saúde chegam a 6,7% da renda mais alta e 1,4% para a mais baixa.

O estudo mostrou que nos últimos 11 anos a camada mais pobre da população sofreu com a inflação mais que os ricos. De julho de 2006 a outubro de 2017, a inflação das famílias de renda muito baixa teve alta de 102%, superior à observada na faixa de renda mais alta (+86,3%) e bem acima da inflação oficial medida pelo IPCA no período (89,3%).

As famílias de renda baixa foram prejudicad­as no período pela alta dos alimentos, puxada pelas carnes (+198%), aves e ovos (+126%), enquanto itens que mais pesam para os ricos tiveram as menores variações, como aparelhos de TV, som e informátic­a (-39%) e eletrodomé­sticos e equipament­os (16,3%).

Para 2018, o Ipea prevê aceleração na inflação como um todo por causa da redução de queda no preço dos alimentos. Em meados de dezembro o órgão deverá rever sua previsão de alta de 4,2% do IPCA.

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