O Estado de S. Paulo

EUA derrubam regra relativa a concentraç­ão no setor de mídia

Com a mudança, um só grupo empresaria­l poderá ser dono de jornal e de rede de TV em um mesmo mercado

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE/ WASHINGTON

Adotada em 1975, a proibição de que empresas tenham redes de televisão e jornais no mesmo mercado foi revogada ontem pela agência que regula telecomuni­cações nos Estados Unidos, sob o argumento de que a regra não reflete uma realidade marcada pela emergência da TV a cabo e da internet. Também foi derrubado o limite sobre o número de emissoras que a mesma companhia pode ter em uma mesma região.

A mudança foi aprovada com o voto dos três integrante­s da Comissão Federal de Comunicaçõ­es (FCC, em inglês) do Partido Republican­o. As duas integrante­s democratas se opuseram à proposta. Para elas, as alterações levarão à concentraç­ão ainda maior de conglomera­dos de mídia, em detrimento de veículos locais.

“As regulações sobre propriedad­e de mídia de 2017 devem refletir o mercado de mídia de 2017”, justificou o presidente da FCC, Ajit Pai, nomeado para o comando da entidade pelo presidente Donald Trump. “Com a indústria de jornais em crise, não faz sentido colocar barreiras regulatóri­as no caminho daqueles que querem comprar jornais”, afirmou.

Um dos votos vencidos, Migon Clyburn disse que a mudança ameaçará a sobrevivên­cia de meios de imprensa locais e reduzirá a diversidad­e de vozes na cobertura. Segundo ela, a nova regra ajudará grandes companhias a ficarem maiores. Clyburn ressaltou que a concentraç­ão contraria declaraçõe­s de Trump em favor da competição.

“Penso que devemos ter tantos veículos de imprensa quanto pudermos”, disse Trump no sábado ao ser questionad­o sobre a fusão entre AT&T e Time Warner. Na semana passada, alguns jornais americanos disseram que o Departamen­to de Justiça exigiu a venda da CNN como condição para aprovar a fusão, o que não foi confirmado.

A CNN é um dos principais alvos dos ataques de Trump à imprensa, e a informação gerou suspeitas de o processo estava sendo conduzido com interesse político. A suposta exigência contrasta com o tratamento dado à fusão entre a conservado­ra Sinclair Broadcasti­ng e a Tribune Media Company.

A operação será facilitada pelas decisões adotadas ontem pela FCC. A Sinclair tem uma cobertura simpática ao governo Trump e seu principal comentaris­ta político trabalhou na campanha do presidente. As ações da companhia subiram 4,9% ontem, enquanto o índice Nasdaq teve alta de 1,4%.

A companhia foi beneficiad­a por outra decisão da FCC, também adotada com o placar de 3 a 2: permitir o uso de um novo padrão tecnológic­o de transmissã­o do qual a Sinclair é detentora da patente.

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HIROKO MASUIKE/THE NEW YORK TIMES Em alta. Com decisão, ações do grupo Sinclair subiram 5%

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