O Estado de S. Paulo

Fim da ‘Era Nolan’ chega com leveza para a DC

- Pedro Antunes

A culpa toda é de Christophe­r Nolan e sua trilogia O Cavaleiro das Trevas, lançada entre 2005 e 2012, protagoniz­ada por Christian Bale, o Batman da voz esquisita, extremamen­te realista – na medida do possível, em um universo no qual um sujeito que veste uma capa esvoaçante, um capuz de morcego e sai por aí dando uns sopapos em bandidos é facilmente aceito pela sociedade. Enquanto a rival das HQs partia para as piadinhas e gracejos de Robert Downey Jr. como Tony Stark/Homem de Ferro, a DC preferia a sisudez. E deu certo com Nolan, e sua obsessão matemática de explicar tudo tintim por tintim.

O estúdio (a Warner Bros.) viu nessa linguagem a que seria a sua. A pessoa perfeita para isso chegou na figura de Zack Snyder, um amante das HQs – anteriorme­nte, por exemplo, ele havia criado poesia visual com as adaptações de 300 e Watchmen. Em 2013, veio O Homem de Aço, com roteiro assinado por Nolan, cujo resultado ficou abaixo do esperado – em questões financeira­s, e de apoio de crítica e público.

Na cartada seguinte, Snyder colocou frente a frente os dois principais heróis da editora, Batman e Superman, anunciou inspiração no clássico das HQs Batman: O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, causou seu alvoroço. A essa altura, já se percebia que o tom estava errado – não era isso que o público queria, oras. A Marvel, por sua vez, fazia rios de dinheiro entrarem diretament­e na sua conta com dois filmes por ano, acertava inclusive nas produções com heróis pouco conhecidos, como Guardiões da Galáxia e Homem-Formiga. Onde a DC errou?

Foi uma questão de genética. Logo no início, editora/estúdio e Snyder levaram como verdade a história de que “os personagen­s da DC são mais sérios”. Que bobagem. E a série de TV Batman, dos anos 1960, com Adam West, é uma das provas disso.

A outra é que, no âmbito das animações, a DC já ganhava de lavada da concorrênc­ia. Basta também lembrar de Batman: A Série Animada, um sucesso de três temporadas, criada na década de 1990. Até mesmo a Liga da Justiça teve grandes momentos nos desenhos animados. A resposta sempre esteve ali, só não queriam vê-la.

Faltava leveza, o que não significa que a estética apocalípti­ca de Snyder estivesse completame­nte equivocada. Bastava pequenos ajustes. A começar por limpar a herança de Nolan. O Batman já é outro (Ben Affleck tem algum carisma). Mataram o Superman para recriá-lo da forma certa. A Liga da Justiça projetada para ser a consagraçã­o tornouse um recomeço.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil