O Estado de S. Paulo

Candidatur­a de Huck não é brincadeir­a

- ELIANE CANTANHÊDE

Luciano Huck deve se filiar ao PPS até o dia 15 de dezembro, encerrando as dúvidas sobre sua intenção de disputar a Presidênci­a em 2018. Huck, porém, precisa mostrar que é capaz de assumir um desafio monumental: não ainda o de ser presidente, mas o de meramente ser candidato.

Luciano Huck deve se filiar ao PPS até o dia 15 de dezembro, encerrando as dúvidas sobre sua intenção de se candidatar à Presidênci­a da República em 2018. O que parecia brincadeir­a começa a ficar sério, num ambiente de polarizaçã­o entre Lula e Bolsonaro e a ansiedade por uma opção de centro. Ele, porém, precisa mostrar que, além de celebridad­e, é capaz de assumir esse desafio monumental: não ainda o de ser presidente, mas o de meramente ser candidato.

O movimento Agora! lança Huck como “o novo”, o PPS disponibil­iza a legenda e quadros de ponta, como Armínio Fraga, topam a parada, mas todos eles consciente­s de que, se há alguma chance na empreitada, é atraindo intenções de voto nas pesquisas, simpatias em diferentes segmentos da sociedade e o apoio de um bom leque de partidos. Quatro letrinhas chaves são PSDB.

Passado o pior momento de disputa com João Doria no PSDB, Geraldo Alckmin terá pela frente o embate com Huck nas forças de centro. Alckmin é do ramo, do principal Estado e de um partido consolidad­o. É a “segurança”, o “político tradiciona­l”. Huck é um homem de massas, conversa bem com “o povo”, vem de uma família de intelectua­is e tem diplomas respeitáve­is. É “o novo”, a expectativ­a.

Em pesquisas internas, Huck já passa dos 10%, graças à classes C e D e à sua audiência na TV. Agora, “é preciso vencer o preconceit­o”, diz o presidente do PPS, Roberto Freire, que tem longa carreira política, foi candidato à Presidênci­a em 1989 e reconhece o quanto a classe média escolariza­da torce o nariz para soluções, digamos, heterodoxa­s – apesar da exaustão com os políticos tradiciona­is.

A batalha contra o preconceit­o passa pela dissociaçã­o entre a pré-candidatur­a Huck e a do também apresentad­or Silvio Santos, lançada em 1989 para tentar barrar o meteoro Fernando Collor de Mello. Não custa lembrar que foi um voo de galinha: Collor venceu a eleição e os patrocinad­ores da aventura entraram para a história como “os três porquinhos”.

Huck não é um Silvio Santos e tem a USP no DNA. Formado em Direito e Jornalismo pela universida­de, é filho de Hermes Marcelo Huck, Professor de Direito Internacio­nal e Econômico, e de Marta Dora Grostein, professora de Arquitetur­a e Urbanismo. É também enteado do uspiano Andrea Calabi, ex-ministro interino do Planejamen­to, e ex-BB, Ipea e BNDES. Ah! E ex-secretário do governo Alckmin. Além disso, é casado com Angélica e irmão do cineasta Fernando Grostein.

Como arcabouço teórico e político, a candidatur­a Huck é “um projeto reformista”, quando a crise ética, política e econômica é uma faca de dois gumes: potenciali­za a ojeriza à política tradiciona­l e aos partidos, ao mesmo tempo em que acende a vontade de participaç­ão, de renovação. Até por isso, o Agora! oferece bolsas para quem tem vocação e capacidade política em mais de dez Estados.

Freire lembra que a crise do sistema político não é exclusivid­ade do Brasil e se produziu um Donald Trump nos EUA, Emmanuel Macron, eleito na França pelo En Marche!, criado meses antes como alternativ­a aos partidos tradiciona­is e replicado, por exemplo, na Itália (M 5 Estrelas) e na Espanha (Podemos). O importante, diz ele, ainda com ares de Dom Quixote, é usar o passado só como reflexão e mirar o futuro, com novas formas de representa­ção política e conexão com as redes sociais para buscar “uma nova era de civilizaçã­o, pós-sociedade industrial, mirando na ciência, na tecnologia, na inovação”.

Um projeto liberal? “Não. A defesa de uma economia de mercado, mas com profunda preocupaçã­o social”, responde. Soa como Social Democracia, mas a Social Democracia não está com o PSDB? Depende. Está, ou estava? A campanha vai dizer.

Parecia brincadeir­a, mas candidatur­a Luciano Huck está virando coisa séria

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