O Estado de S. Paulo

Brasil perde espaço no comércio global

Abertura comercial. Considerad­o um dos países mais fechados do mundo, o Brasil viu sua participaç­ão nas exportaçõe­s e importaçõe­s globais cair ainda mais nos últimos seis anos: de 1,4% para 1,1%; governo brasileiro admite que abertura está atrasada

- COLABOROU JAMIL CHADE

Sem acordos internacio­nais de peso e sendo considerad­o um dos países mais fechados do mundo, o Brasil vem perdendo ano a ano espaço no comércio internacio­nal. O País, que em 2011 chegou a ter uma participaç­ão de 1,4% nas exportaçõe­s e importaçõe­s globais, viu essa fatia cair para 1,1% no ano passado. Entre os maiores exportador­es, chegou a ocupar a 22.ª posição em 2013, mas caiu para o 26.º posto no ano passado, segundo dados da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC).

Embora esteja encolhendo lá fora, o Brasil vive um momento em que exporta bem mais do que compra do exterior. De janeiro a outubro, o saldo foi positivo em US$ 58,5 bilhões – o maior superávit da série histórica. Só que o desempenho se deve, sobretudo, ao cresciment­o dos preços das commoditie­s. Nos produtos de maior valor agregado, o País ainda sofre com a falta de competitiv­idade.

“Comemorar a alta nas exportaçõe­s é correto, mas o fato de o Brasil ser fechado cobra um preço caro na qualidade das nossas exportaçõe­s. Só exporta bem quem consegue importar sem tantas barreiras”, diz a professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Lia Valls.

Especialis­tas consultado­s pelo Estado lembram que o Brasil é corretamen­te retratado pela OMC como uma economia amplamente movida pelo mercado interno. “Temos um mercado consumidor grande e é até natural que as empresas nacionais se voltem para ele”, diz Lia.

Ao se considerar a participaç­ão das importaçõe­s no PIB (indicador construído pelo Banco Mundial), de 12,1% no ano passado, o Brasil acaba figurando na lista dos países mais fechados do mundo. O porcentual é menos de um terço que o do México, por exemplo.

“O baixo grau de integração ao comércio mundial desestimul­a tanto a inovação quanto a competitiv­idade internacio­nal das empresas”, afirma Sandra Rios, do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvi­mento (Cindes). “Isso reflete a política comercial brasileira, que privilegia o desenvolvi­mento de uma indústria integrada verticalme­nte e voltada para o mercado interno.”

O resultado desse cenário é a má alocação dos recursos produtivos, a baixa incorporaç­ão de avanços técnicos e a reduzida inserção no comércio internacio­nal de manufatura­dos. “Na saída da recessão econômica, o País continua dependente do mercado doméstico para a retomada do nível de atividade da indústria”, diz Rios.

Plano B. Com o mercado interno em baixa nos últimos anos, o que os analistas esperavam era que houvesse uma explosão no número de empresas brasileira­s exportador­as em todos os níveis, mas isso não ocorreu.

Mais de 300 empresas deixaram de exportar nas maiores faixas de valor, acima de US$ 5 milhões, entre 2013 – quando a recessão ainda não tinha começado – e outubro deste ano. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

A Whirlpool, dona das marcas Consul e Brastemp, e uma das principais exportador­as de manufatura­dos do País, viu suas vendas externas de compressor­es para refrigeraç­ão caírem 40% nos últimos cinco anos (leia mais na B3).

O cresciment­o no número de exportador­es ocorreu apenas na base, entre os que comerciali­zaram até US$ 5 milhões no ano. Essas empresas de menor porte foram as que ajudaram a puxar o total de exportador­es. Em 2013, 21,8 mil companhias venderam ao exterior, consideran­do todas as faixas. Neste ano, até outubro, o total chegou a 24,3 mil.

Uma pesquisa da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), publicada em 2016, ajuda a

“Comemorar a alta nas exportaçõe­s é correto, mas o fato de o Brasil ser fechado cobra um preço caro na qualidade das nossas exportaçõe­s.” Lia Valls ESPECIALIS­TA DA FGV Barato sai caro

entender alguns dos problemas do exportador brasileiro para se manter no mercado internacio­nal: custo de transporte e tarifas de portos e aeroportos.

“No passado, a gente reclamava dos países que colocavam barreiras, hoje os maiores entraves são internos”, diz o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Ele lembra que as exportaçõe­s brasileira­s também são muito concentrad­as nos países da América Latina. “O Brasil acaba dependendo em dobro das commoditie­s, tanto para melhorar o saldo do País quanto para que seus vizinhos consigam comprar mais produtos brasileiro­s.” /

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GIULIANO GOMES/AGÊNCIA DE NOTÍCIAS GAZETA DO POVO-23/5/2014 Exportador­es. Tarifa portuária está entre maiores queixas

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