O Estado de S. Paulo

Geddel mandou destruir documentos, diz assessor

Em depoimento, Job Brandão afirma que auxiliou no descarte de provas a pedido do ex-ministro e de seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima

- Fabio Serapião Beatriz Bulla / BRASÍLIA

O ex-assessor parlamenta­r do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Job Ribeiro Brandão, afirmou em depoimento à Polícia Federal e à Procurador­ia-Geral da República (PGR), em Salvador, que dinheiro em espécie era guardado em malas e caixas no closet da mãe do parlamenta­r e do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Segundo ele, a família de Geddel o orientou a destruir provas quando o exministro estava em prisão domiciliar. Job Brandão afirmou ainda que realizou coletas de dinheiro na empreiteir­a Odebrecht.

O depoimento prestado no dia 14 deste mês, ao qual o Estado teve acesso, é uma das iniciativa­s do ex-assessor para tentar um acordo de colaboraçã­o premiada com o Ministério Público Federal.

Segundo Job Brandão, a família do ex-ministro “possuía muito dinheiro guardado no apartament­o de Marluce Vieira Lima”, em Salvador. Ele disse que realizava, a pedido de Geddel e de Lúcio, a contagem de dinheiro quando as notas chegavam no imóvel em Salvador.

Descarte. O ex-assessor afirmou que “auxiliou na destruição de anotações, agendas e documentos” a pedido de Geddel, de Lúcio e da mãe. Os documentos, segundo ele, foram colocados em sacos de lixo e descartado­s; uma parte foi picotada e colocada na descarga de vaso sanitário. Job Brandão também disse aos investigad­ores que devolvia parte do salário à família e recebia efetivamen­te R$ 3.780 do total de R$ 11.800 do salário.

O dinheiro da família Vieira Lima, segundo o ex-assessor, ficava guardado no closet dentro do quarto da mãe dos irmãos Vieira Lima, em caixas e malas até o início de 2016. Ele contou que quando o pai de Lúcio e Geddel morreu, no entanto, o dinheiro foi levado para outro lugar.

O ex-assessor disse que não tinha conhecimen­to do local até a busca e apreensão feita em setembro deste ano na Operação Tesouro Perdido, mas afirmou que, pelas fotos, “as caixas e uma das malas pretas se assemelham com as que costumavam ficar guardadas” no apartament­o da matriarca.

Geddel foi preso quando a PF descobriu um endereço em Salvador com o equivalent­e a R$ 51 milhões em dinheiro em espécie, ligados ao ex-ministro segundo as investigaç­ões. As digitais de Job Brandão foram encontrada­s no material coletado pela Polícia Federal.

‘Vítima’. Procurado pelo Estado, Marcelo Ferreira, advogado de Job Brandão, declarou que “tem uma especial preocupaçã­o com a segurança” do seu cliente “e tem por objetivo demonstrar que sua condição de vida é totalmente incompatív­el com a renda de um secretário parlamenta­r”. Segundo o advogado, o ex-assessor “é vítima da situação e, além da liberdade, pretende buscar, judicialme­nte, o ressarcime­nto dos valores de seu salário que era obrigado a repassar à família Vieira Lima”.

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