O Estado de S. Paulo

Supremo deve analisar decisão da Alerj

Associação de magistrado­s vai questionar na Corte ato da Assembleia do Rio e de outros legislativ­os estaduais que soltaram deputados presos

- Beatriz Bulla / BRASÍLIA Roberta Pennafort Vinicius Neder / RIO

A Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB) vai questionar no Supremo Tribunal Federal as decisões de assembleia­s legislativ­as estaduais que liberaram parlamenta­res da prisão ou do cumpriment­o de cautelares, como a que soltou os deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo, todos do PMDB do Rio de Janeiro, na sexta-feira.

A prisão dos três havia sido determinad­a pelo Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2), na véspera, como parte da Operação Cadeia Velha, um desdobrame­nto da Lava Jato.

Segundo o presidente da AMB, Jayme Oliveira, os legislativ­os estaduais estão utilizando um dispositiv­o da Constituiç­ão restrito aos parlamenta­res do Congresso Nacional. “Não é só a situação da Alerj. Nós já tivemos situação semelhante no Rio Grande do Norte e no Mato Grosso. A situação está se repetindo. Vamos questionar não só essa (do Rio), mas todas as decisões que estão dando uma interpreta­ção extensiva”, afirmou Oliveira. A ação da AMB será protocolad­a no STF até a próxima terça-feira.

Nos bastidores do STF, há um desconfort­o com o fato de os parlamenta­res estaduais justificar­em as decisões políticas utilizando como fundamento a decisão da própria Corte no caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Por maioria apertada, o plenário do Tribunal decidiu que medidas cautelares diversas da prisão preventiva, já prevista na Constituiç­ão, também precisam passar pelo crivo do Congresso.

No Supremo, contudo, o argumento é que a Corte discutiu as medidas diferentes da prisão e impostas a membros do Legislativ­o federal e não estadual. A presidente Cármen Lúcia chegou a lamentar, a pessoas próximas, que se faça uma confusão envolvendo a decisão da Corte.

“No entendimen­to da AMB, essa interpreta­ção (dos legislativ­os estaduais) é totalmente equivocada. É urgente a necessidad­e do Supremo se manifestar sobre esse assunto”, afirmou o presidente da AMB.

Ontem, o Ministério Público do Rio entrou com uma ação para anular a sessão que determinou a soltura dos deputados. O motivo foi o fechamento das galerias da Alerj durante a votação.

Bloqueio. Os três deputados do PMDB fluminense são acusados de receber propina para favorecer empresas do setor de transporte­s e da construção civil. Em decorrênci­a de benefícios fiscais em favor de empresas do esquema, o Estado teria deixado de receber R$ 183 bilhões, segundo o Ministério Público Federal. Os investigad­ores acreditam que o esquema exista desde os anos 1990.

O TRF-2 mandou bloquear R$ 271 milhões dos três parlamenta­res e de mais 10 pessoas e 34 empresas. Picciani é acusado de ter recebido R$ 154 milhões, Melo, R$ 109 milhões e Albertassi, R$ 8 milhões.

Procurado, o presidente da Alerj recusou o pedido de entrevista. A assessoria de Albertassi disse que ele não comentaria e Melo não respondeu aos contatos da reportagem.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Condução. Jorge Picciani após depor na sede da PF

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