O Estado de S. Paulo

‘TEMOS DE LIDAR COM A SAUDADE, É O MAIOR DESAFIO’

Pais de João Pedro Calembo, morto no ataque, falam sobre os sonhos do filho, a continuida­de da vida e as ameaças pela internet

- / DEPOIMENTO A ANDRÉ BORGES

Os publicitár­ios Bárbara Melo e Leonardo Calembo ainda buscam uma forma de lidar com a ausência do filho João Pedro Calembo, de 13 anos, que morreu no Colégio Goyases ao lado de João Vitor Gomes, também de 13 anos. Os irmãos Gustavo, de 9 anos, e Davi, de 6 anos, reclamam da falta do primogênit­o, que sonhava em ser missionári­o de Igreja e engenheiro. Ao Estado, em conversa na Igreja Batista Renascer, em Goiânia, onde coordenam grupos de orientação familiar e criação de filhos, eles falaram sobre perdão, sonhos, a continuida­de da vida e as ameaças que receberam nas redes sociais.

Espelho. O João Pedro era um referencia­l para os irmãos, um espelho para os dois, por isso a ausência está sendo muito difícil para eles. Nós estamos consternad­os pela dor das crianças. Na hora de almoçar, elas não comem direito, porque faziam isso ao lado do irmão. A rotina familiar foi muito afetada.

Perdão. Nós perdoamos o ato dele (o adolescent­e que atirou). Ele não tem noção do que fez à minha e às outras famílias, não tem a real noção do que fez, eu prefiro acreditar assim. Não vou ficar com esse peso, não fui eu que fiz. Nada vai trazer o João Pedro de volta. A vida segue, eu tenho dois filhos para cuidar. Liberar o perdão é liberar o peso sobre o meu coração. Esse é o real sentido do perdão.

Bullying. Nós recebemos mensagens pelas redes sociais: “Ah, fez bullying? Se fosse comigo, eu mataria também”. Sabemos a educação que demos ao João Pedro, o tempo que dedicamos a ele. Isso nos deu muita certeza daquilo que ele era, que ele representa­va. Então, nossa vacina contra essas coisas é cem por cento. Mas isso mostra o quanto aquelas pessoas são assassinas, tanto quanto o menor. Temos agora que defender o João Pedro.

Sonho. O João Pedro queria muito cursar Engenharia. Ele gostava de Matemática, era bom aluno, tirava boas notas. E gostava muito de atuar na igreja. Tinha um sonho de fazer missões. Até brincamos, uma semana antes, que ele ia para o Paraguai, fazer missões com a nossa igreja. O desejo do coraçãozin­ho dele era esse, de participar.

Saudade. Não sei se eu consegui entender todo o propósito de Deus, se vou entender tudo um dia, se a gente vai ter as respostas. Mas temos de lidar com a saudade, que é permanente. Esse é o desafio maior. Saber onde ele está eu sei. E sei que ele está bem. Mas a saudade é o grande desafio.

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ANDRÉ BORGES/ESTADÃO Perdão. ‘Nós perdoamos, ele não tem a real noção do que fez’

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