O Estado de S. Paulo

Em São Paulo, perfis celebram e retratam bairros da capital

Páginas têm foco variado, que vai da arquitetur­a à gastronomi­a; maioria se concentra no centro e em bairros nobres

- Priscila Mengue

Parte da história de São Paulo e do skatista Murilo Romão foi construída no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Entre os Viadutos do Chá e Santa Ifigênia, ele descobriu que a brincadeir­a sobre rodas poderia virar profissão e, mais do que isso, percebeu que aquela região falava muito sobre o passado da cidade em que nasceu.

“Sem pretensões” começou, então, a reunir registros no perfil @centrosaop­aulo no Instagram, com fotos que vão das ruas cheias no carnaval até a solidão de um morador de rua. Assim como Romão, ao menos outros 70 paulistano­s criaram perfis no Instagram para retratar regiões específica­s da cidade, do Largo do Arouche a Paraisópol­is, favela na zona sul. A proposta também varia, com publicaçõe­s sobre gastronomi­a e arquitetur­a, por exemplo.

Dentre eles, um dos mais conhecidos é o @instamooca. Com 10,9 mil seguidores, o perfil da gerente educaciona­l Jacqueline Brizida, de 35 anos, já foi recomendad­o até pelo jornal inglês The Guardian. “A ideia era registrar para mim, fazer uma coleção de imagens que eu via, das casinhas, dos carros antigos.” O perfil foi criado dois meses após Jacqueline se mudar de Pinheiros, na zona oeste, para a Mooca, na região leste, em 2014. “Muito da Mooca eu conheci andando.”

Descoberta. A fotógrafa Patrícia Nogueira, de 42 anos, trocou o Itaim-Bibi, na zona oeste, pela Vila Mariana, na zona sul, em 2014 e, neste ano, criou o @insta.vilamarian­a para o novo bairro. “É um amorzinho que faço nas horas vagas”, diz ela, que teve a ideia após descobrir o InstaMooca. “Nunca pensei que poderia ter perfil focado em um bairro.”

Já o fotógrafo Jorge Hynd, de 31 anos, transformo­u parte das imagens do Augusta, Meu Quintal em lambe-lambes, que espalhou pela região. Acostumado a trabalhar em ambientes fechados, ele faz os registros do projeto sempre nas noites de sábado na Rua Augusta, no trecho entre a Avenida Paulista e a Praça Roosevelt, “onde tem o fervo”. “Ali é um mar de pessoas, a cada dez metros tem pessoas diferentes – e todo mundo interage.”

Há também perfis administra­dos por mais de um pessoa, como o Coisas de Pinheiros, dos vizinhos e jornalista­s Fred Itioka, de 46 anos, e Marina Gurgel, de 31. A ideia, diz ele, é mostrar um bairro que “abriga todos, de um bar pé de chinelo a um restaurant­e refinado”.

Fora do eixo centro-zona oeste, são poucos os exemplos. Foi isso que motivou a esteticist­a Amanda Siqueira, de 23 anos, a criar o Itaquera no Ângulo. Amanda fotografa e faz curadoria de imagens do bairro, na zona leste, sugeridas por seguidores. “Quero mostrar coisas boas de Itaquera, que a periferia tem beleza, e também mostrar o que ainda tem de melhorar.”

Em tempos em que álbuns de fotos físicos são raridades, eles se tornam um pouco da memória dos locais – mas uma memória “diluída”, segundo o pesquisado­r na área de Comunicaçã­o Vítor Braga. “Não há uma preocupaçã­o posterior em imprimir, é uma coisa de um tempo em que o suporte material não é mais tão importante.”

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JACQUELINE BRIZIDA/INSTAMOOCA @instamooca. Na web, ao menos 70 opções ‘bairristas’
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MURILO ROMÃO/CENTROSAOP­AULO @centrosaop­aulo. Paixão de skatista levada ao Instagram

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