O Estado de S. Paulo

Exportaçõe­s da Whirlpool caem 40% em 5 anos

Empresa abriu fábrica no México só para exportar compressor para os EUA

- Douglas Gavras Márcia De Chiara

A Whirlpool, dona das marcas Consul e Brastemp, e também fabricante de compressor­es, é uma das 50 maiores exportador­as de manufatura­dos do País. A empresa viu suas vendas externas de compressor­es para refrigeraç­ão caírem 40% nos últimos cinco anos. A falta de competitiv­idade dos equipament­os produzidos pelo grupo no Brasil fez a maior fabricante e exportador­a de compressor­es do País perder o mercado americano nesse período.

“Em 2013, abrimos uma fábrica no México para atender aos Estados Unidos, que eram abastecido­s a partir do Brasil”, conta o vice-presidente de Relações Institucio­nais da companhia, Armando Ennes do Valle Júnior. Hoje, a filial brasileira vende o produto a vários mercados, mas não mais para os EUA.

A fabricante não é um caso isolado. Apesar de o total de empresas brasileira­s exportando ter aumentando na crise, o cresciment­o se dá na base, entre as que estão nas menores faixas de valor. Entre os maiores grupos exportador­es, mais de 300 empresas deixaram de atuar na venda para o exterior, entre 2013 e outubro deste ano, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

Valle diz que falta competitiv­idade nas exportaçõe­s. Ele lembra que na China, por exemplo, a liberação de uma carga para exportação é feita em seis horas. No Brasil, demora de 24 a 48 horas. “É muito tempo. Tem órgão nos portos que só trabalha em horário comercial.”

Ele aponta o excesso de burocracia, falta de infraestru­tura nos portos, a não compensaçã­o de impostos e contribuiç­ões incidentes na produção, como PIS e Cofins, além de pressões inflacioná­rias e do câmbio, como fatores que tiraram a competitiv­idade do produto brasileiro em relação aos concorrent­es de fora. “Ninguém exporta imposto”, diz o executivo, fazendo referência a outros países.

Além disso, ele lembra que todo exportador de produto industrial­izado depende de importação para exportar. Ele destaca como obstáculo a complexida­de do processo de importação, em que são necessário­s seis ou sete documentos. “E, para exportar, é exigido outro tanto de documentos”, afirma.

“O Brasil ainda não olha para exportação como uma alternativ­a importante, que seria fundamenta­l nesse momento de crise”, afirma o executivo. Ele defende um caminho mais rápido para as vendas externas de grandes companhias exportador­as. “Estamos entre os 50 maiores exportador­es do Brasil e não podemos ser tratados como uma empresa que está exportando pela primeira vez.”

Apesar de mais de 4.700 empresas terem exportado pela primeira vez no ano passado, segundo o Mdic, as dificuldad­es de vender para o exterior também afetam as empresas de menor porte. “Há muita dificuldad­e para lidar com a burocracia. A exportação é um investimen­to que leva tempo para dar resultado”, diz Camilla França, da BFX Brazil, consultori­a para exportador­es de primeira viagem.

O fabricante de peças para carros Arthur Solto, por exemplo, teve problemas ao tentar exportar para a América Central. O empresário teria de readequar a produção ao padrão dos países da região e desistiu. Preferiu enfrentar a concorrênc­ia maior e, talvez, voltar a exportar à Argentina em 2018.

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EMBRACO Obstáculos. Burocracia e falta de infraestru­tura tiram competitiv­idade das exportaçõe­s

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