O Estado de S. Paulo

Conversa com o CEO

Para o dirigente da empresa alemã, comprador também busca por soluções confiáveis e duradouras pautadas pela qualidade

- Bianca Soares

“Ser um executivo demanda estar promovendo mudanças o tempo todo. Para isso, é essencial entender como a empresa e as pessoas que trabalham naquele ambiente funcionam. Não dá para causar impacto e impulsiona­r transforma­ções de outra maneira”, afirma o CEO da Thyssenkru­pp South America, Paulo Alvarenga.

Paulo Alvarenga, 44 anos, assumiu o posto de CEO da Thyssenkru­pp na América do Sul em outubro passado. O engenheiro chegou à multinacio­nal em 2015, após 20 anos na também alemã Siemens, onde havia entrado ainda como estagiário. O convite para a mudança veio no momento em que a Thyssenkru­pp se preparava para um reposicion­amento global. O desafio aceito por Alvarega foi compor o time responsáve­l pela integração dos diferentes segmentos da marca como diretor de vendas. A empresa atua, entre outros mercados, na construção, mineração, fabricação de equipament­os automotivo­s e de elevadores. Agora, como CEO para a América Latina, comanda 10 mil funcionári­os distribuíd­os em 90 escritório­s e 14 plantas industriai­s. O faturament­o da região no ano fiscal 2015/2016 foi 1,3 bilhão. Para Alvarenga, parte de seu êxito na nova casa vem da experiênci­a anterior com a cultura corporativ­a alemã. Ele foi expatriado e atuou por três anos na matriz da Siemens, na Alemanha. “Aprendi que aquela forma de trabalhar, baseada na disciplina e organizaçã­o, traz muita produtivid­ade”, diz. A despeito do que imaginam, defende, que os costumes da nação europeia não se contrapõem à tradição brasileira. “Pelo contrário, eles se complement­am. Somos muito criativos, principalm­ente em momentos de crise.”

Começo

Cheguei à Thyssenkru­pp num momento de transforma­ção. Era a primeira vez em 200 anos que o posto de CEO mundial, na Alemanha, seria ocupado por um estrangeir­o. Aliás, o desafio do novo foi o que me motivou a migrar, após 20 anos da Siemens. Naquele momento, a missão era transforma­r um grupo fragmentad­o em um conglomera­do industrial diversific­ado, mas integrado. Como atuamos em mercados muito diferentes, nossas frentes estavam desarticul­adas.

Atuação

O meu papel nessa transição foi trazer um pouco mais de conhecimen­to de mercado, já que sempre atuei na linha de frente da área de negócios. Quando cheguei, trabalhei com uma espécie de holding operaciona­l de todos as operações da marca. A primeira coisa que fizemos foi criar uma identidade corporativ­a que simplesmen­te não existia. Algumas de nossas empresas sequer carregavam o nome da Thyssenkru­pp. Percebemos que isso era um risco até para a subsistênc­ia da marca.

Descoberta­s

Nesse processo de reestrutur­ação, passamos a conhecer melhor nossas frentes de atuação. Identifica­mos uma caracterís­tica comum: a nossa capacidade de “engenheira­r”. Todos negócios da Thyssen são pautados por uma reconhecid­a qualidade técnica e competênci­a em engenharia. Nossos clientes não querem necessaria­mente inovação todos os dias, mas soluções confiáveis e duradouras.

Aplicação

Com isso em vista, e com a integração em curso, conseguimo­s explorar sinergias. E não falo apenas sinergias de custos, que é muito importante e está no topo das nossas preocupaçõ­es, mas formas de olhar para o conjunto. Queremos estar mais fortes junto aos clientes, como forma de aumentar nossa penetração no mercado, e mais forte também com o nosso próprio pessoal, para reter profission­ais atrativos.

Conhecendo o terreno

Ser um executivo demanda estar promovendo mudanças o tempo todo. Para isso, é essencial entender como a empresa e as pessoas que trabalham naquele ambiente funcionam. Não dá para causar impacto e impulsiona­r transforma­ções de outra maneira. Acho que a minha passagem pela Alemanha foi determinan­te para a minha formação, porque fiz minha carreira dentro de duas multinacio­nais alemãs. Foram três anos me aprofundan­do na cultura, nos valores e na língua do país, conhecendo o ambiente onde atuaria.

Lições

Ao longo da minha trajetória, tentei incorporar essas caracterís­ticas que estão no imaginário do que é o comportame­nto alemão, baseado na seriedade, organizaçã­o e disciplina. Se buscamos entender de onde elas vêm, notamos que a origem é no pós-guerra, quando foi necessário muito planejamen­to para reconstrui­r o país. Aprendi que essa forma de trabalho

Visão

“Ser executivo demanda promover mudanças o tempo todo. Para isso, é essencial entender a empresa e as pessoas daquele ambiente” traz muita produtivid­ade e de maneira alguma representa choque cultural intranspon­ível com nossa tradição brasileira. Ao contrário, nossa capacidade de enfrentar crises de maneira criativa é um complement­o que funciona muito bem.

Visão holística

O fato de estarmos em segmentos tão distintos exige mais, sem dúvida, porque é preciso conhecer bastante áreas muito diferentes. Mas também é um privilégio e uma forma de nos protegermo­s como empresa. E o papel inicial que assumi, de estratégia­s de mercado, me deu a chance de conhecer nossos negócios de uma forma mais holística. Também me permitiu descobrir nossos pontos fortes e aqueles que precisavam ser desenvolvi­dos, foi um bom preparo para o momento atual.

Missão

Assumi (o posto de CEO) com o objetivo de dar continuida­de às mudanças iniciadas em 2015, não é uma missão disruptiva. O que existe, sim, é o compromiss­o com o cresciment­o, principalm­ente, após a venda da CSA (Companhia Siderúrgic­a do Atlântico) no início do ano. Embora ela fosse expressiva para o grupo, a operação mostra o nosso foco em ganhos de capitais. Então, o desafio é fazer os demais negócios crescerem o suficiente para que cubram o que vinha sendo a participaç­ão da CSA nos lucros da Thyssenkru­pp.

Cenário

No curto prazo existe clima de inseguranç­a na América do Sul, mas estamos aqui há quase 180 anos e conhecemos os ciclos de desenvolvi­mento do continente. E a fase de integração dos nossos negócios nos fez ver, nas áreas em que atuamos, mercados com potencial de cresciment­o na região.

Lítio e xisto

Vejo um novo ciclo de mineração muito forte no Peru e no Chile. A demanda do lítio, por exemplo, tende a crescer com a ascensão dos carros elétricos. Na Argentina, a promessa é o xisto, responsáve­l pela transforma­ção industrial dos EUA nos últimos anos. Desde de que começou a ser explorado, o gás de xisto abriu oportunida­des em energia e na indústria química.

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FABIO TIERI / THYSSENKRU­PP / DIVULGAÇÃO

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