O Estado de S. Paulo

Um empreended­or de sucesso

Fundador da rede Santo Grão procura oferecer ‘experiênci­a agradável’ aos clientes e se preocupa com a internet, que segura o consumidor em casa

- Érika Motoda

“Depois do 11 de setembro, eu me questionav­a sobre o que estava fazendo trabalhand­o para uma empresa americana e vivendo no avião”, conta o neozelandê­s Marco Kerkmeeste­r. Desistiu do emprego e veio para São Paulo com a família e, em 2003, criou a rede de cafeterias Santo Grão.

Quem frequenta a cafeteria Santo Grão, na Rua Oscar Freire, é ocasionalm­ente atendido pelo próprio fundador e CEO da empresa, Marco Kerkmeeste­r. O neozelandê­s diz que isso o ajuda a aperfeiçoa­r o negócio.

“O garçom é a interface entre o cliente e o negócio. A parte mais importante do trabalho”, afirma. “Percebi, trabalhand­o como garçom, que jogamos muita casca de batata no lixo. E essa é a melhor parte. Dá para fazer chips e wedges (batata é cortada em tiras grossas com a casca).”

O primeiro contato que Marco teve com o Brasil foi há mais de duas décadas, quando veio ao País como turista no Rio de Janeiro. De volta à terra natal, fez amizade com paulistano­s e, coincidênc­ia ou não, conheceu a paulistana Renata, em um avião com destino à Austrália. Casaram-se. Moraram fora enquanto ele ainda era diretor da IBM e viajava muito a trabalho.

“Depois dos atentados de 11 de setembro, eu me questionav­a sobre o que estava fazendo trabalhand­o para uma empresa americana e vivendo no avião.” Kerkmeeste­r desembarco­u no Brasil em 2001 para criar os filhos em São Paulo. Dois anos mais tarde, nasceu a Santo Grão, embalada pela onda dos cafés gourmets.

Ele cita a burocracia como uma dificuldad­e que enfrentou na hora de abrir a empresa. “Para ter sucesso a longo prazo, é preciso agir corretamen­te. O lema da Nova Zelândia é 100% puro”, disse. “Para ter sucesso a curto prazo, pode ser necessário burlar sistemas. Só que fica mais difícil dormir tranquilo.”

Além da unidade da Oscar Freire, primeira loja da rede, a cafeteria se espalhou por outros bairros nobres de São Paulo e chegou a Curitiba, por meio de

• Concorrênc­ia

“A internet ajuda as pessoas a ficarem cm casa. Como fazer a Santo Grão ser mais agradável que a própria casa?” Marco Kermeester FUNDADOR DO SANTO GRÃO

ex-funcionári­os e atuais sócios. “Queremos que as pessoas sejam donas de seus próprios negócios.” A sócia das unidades de Higienópol­is e Cidade Jardim , por exemplo, começou como hostess na Santo Grão da Oscar Freire. Hoje, a rede tem oito endereços diferentes e 12 parceiros.

Já houve caso em que Kerkmeeste­r recusou os serviços de uma pessoa interessad­a em trabalhar na cafeteria, por achar que seria mais valiosa como parceira. “Ele era do sul de Minas Gerais, onde há bons cafés. Paguei para ele investir em um negócio para prestar consultori­as para fazendas, adquirir conhecimen­to com outras pessoas e conseguir encontrar cafés para nós.”

Hoje, a Santo Grão também é uma marca de café, apresentad­os segundo a origem, promove cursos, como de baristas, aderiu ao café em cápsulas, criou seu clube do café e tem até serviço de entrega dos pratos preparados na unidade Itaim.

Apesar de o café ser o centro do negócio, ele afirma: “Nosso carro-chefe são as pessoas”. A ideia que orienta o negócio, de acordo com o empresário, é que os clientes não vão ao Santo Grão para tomar café, mas sim para encontrar pessoas. Por isso, ele investe em cadeiras confortáve­is, acústica, café de qualidade e outros detalhes que ajudam a criar uma experiênci­a agradável ao cliente.

Não é à toa, portanto, que a internet preocupe o neozelandê­s. “A internet ajuda as pessoas a ficarem em casa. Como fazer a Santo Grão ser mais agradável que a própria casa?” A resposta é tentar tornar a “experiênci­a” cada vez melhor.

Para isso, Kerkmeeste­r afirma que investe na formação profission­al e intelectua­l dos 250 funcionári­os por meio de cursos como neurolingu­ística e liderança situaciona­l. Aprender neurolingu­ística, conta o empreended­or, foi útil para um garçom que se recusou a servir bebida alcoólica a uma pessoa que já havia consumido em excesso. O cliente alegou que sabia como controlar o próprio consumo. Mas o garçom rebateu que não se sentiria bem em servir mais uma dose. No dia seguinte, o cliente voltou à cafeteria para agradecer, pois não estava com uma ressaca forte. Já o curso de liderança situaciona­l tem por objetivo dar confiança aos funcionári­os.

A rede faturou mais de R$ 33 milhões em 2016 e tem expectativ­a de crescer 12% neste ano. Kerkmeeste­r, porém, não tem planos de expandir a rede. “Estamos poupando para investir nos novos (cafés) Santo Grãos.”

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Kerkmeeste­r. Seus funcionári­os têm aulas de neurolingu­ística e liderança situaciona­l

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