O Estado de S. Paulo

Banco Mundial propõe ao Brasil um choque liberal na economia

Encomendad­o ainda no governo Dilma, estudo sugere cortes profundos em gastos públicos que poderiam aliviar a pressão sobre o caixa federal em 7% do PIB até 2026

- Lu Aiko Otta Adriana Fernandes / BRASÍLIA COLABOROU EDUARDO RODRIGUES

Estudo do Banco Mundial encomendad­o em 2015 pelo então ministro Joaquim Levy (Fazenda), ainda no governo Dilma Rousseff, propõe medidas como congelamen­to de salários do funcionali­smo, fim do ensino superior gratuito, revisão da Zona Franca de Manaus e do Simples Nacional, fim das deduções de despesas com saúde no Imposto de Renda e redução das amarras do Orçamento. O Banco Mundial também recomenda a fusão dos programas sociais para acabar com o acúmulo de benefícios. Pela proposta, Bolsa Família, salário-família, aposentado­rias rurais e o Benefício de Prestação Continuada seriam reunidos em um único programa. Com o nome de Um Ajuste Justo, o receituári­o diz que o País terá de fazer escolhas. Para o Banco Mundial, ou País corta gastos ou corre o risco de interrompe­r o cresciment­o. As medidas aliviariam a pressão sobre o caixa federal em 7,07% do PIB até 2026 e não prejudicar­iam os mais pobres nem aumentaria­m a pobreza.

O Banco Mundial fez um retrato do Brasil: um País que gasta muito e mal e que terá de fazer escolhas duras para ajustar suas contas. A instituiçã­o divulgou ontem um estudo encomendad­o em 2015 – pelo então ministro da Fazenda Joaquim Levy – para propor medidas que reduzissem os gastos do setor público. O resultado foi um receituári­o liberal, com propostas que vão desde o congelamen­to do salário dos servidores ao fim do ensino superior gratuito.

Intitulado “Um ajuste justo”, o relatório mapeia medidas que permitem enquadrar o gasto brasileiro à regra do teto de despesas – que impede que os gastos cresçam acima da inflação do ano anterior. Entre elas, estão também a revisão da Zona Franca de Manaus e do Simples Nacional, o fim das deduções de despesas com saúde no Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), a revisão dos programas sociais e a redução das amarras do Orçamento federal.

O relatório antecipa, na prática, o debate econômico das eleições de 2018. E, ontem mesmo, logo depois do anúncio oficial, no Ministério da Fazenda, já provocou forte reação nas mídias sociais, principalm­ente por causa da proposta do fim da gratuidade nas universida­des.

No ano que vem, independen­temente das articulaçõ­es políticas, o País se verá diante de uma decisão crucial: ou corta os gastos de forma drástica e inédita nas últimas três décadas, ou corre o risco de interrompe­r o cresciment­o. “Tem escolhas”, disse o diretor do organismo no Brasil, Martin Raiser. “A macroecono­mia tem maneiras de solucionar problemas que os políticos não solucionam.” Para ele, é melhor enfrentar essa discussão agora com transparên­cia.

O documento recomenda um conjunto de medidas que poderiam aliviar a pressão sobre o caixa federal no equivalent­e a 7,07% do PIB até 2026 sem prejudicar os mais pobres, nem trazer perdas para a produtivid­ade da economia. Algumas, porém, exigem contrariar grupos com forte influência no governo e no Congresso. “Não queremos ser intrusivos”, disse o economista-chefe do Banco Mundial, Antonio Nucifora. “O papel do relatório é estimular o debate.”

As sugestões envolvem também um enxugament­o de 1,29% do PIB nos gastos de Estados e municípios, elevando o potencial de economia a 8,36% do PIB. “O grande mérito do relatório é sistematiz­ar o que já se sabe há muito tempo. O Brasil poderia estar fazendo muito mais do que gasta”, avaliou o presidente do Insper, Marcos Lisboa. Para ele, a medida mais importante é a reforma da Previdênci­a.

O banco calcula que a reforma economizar­ia o correspond­ente a 1,8% do PIB. “Trata-se de um mapa de como gastar menos e aumentar o desempenho das contas públicas”, afirmou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Segundo ele, se houver consenso sobre as propostas, elas serão incorporad­as à política pública. /

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