O Estado de S. Paulo

Servidor ganha 67% mais que o mercado

Banco Mundial recomenda o congelamen­to dos salários do funcionali­smo federal

- Adriana Fernandes Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

O relatório afirma que, no Brasil, o funcionári­o público ganha, em média, 67% mais do que o trabalhado­r de perfil semelhante na iniciativa privada. Trata-se da maior diferença entre os 53 países pesquisado­s.

O Brasil é recordista em generosida­de com servidores públicos federais, aponta o relatório “Um ajuste justo – propostas para aumentar eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, divulgado ontem pelo Banco Mundial. Esse grupo ganha, em média, 67% mais do que trabalhado­res de perfil semelhante na iniciativa privada. Trata-se da maior diferença, ou “prêmio salarial”, entre os 53 países pesquisado­s. O padrão mundial é de 16%.

Para aproximar os salários do setor público ao rendimento da iniciativa privada, o Banco Mundial recomenda o congelamen­to dos salários. Para o banco, se o prêmio dos salários federais fosse reduzido à metade, a economia seria de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB).

A proposta é polêmica e já provocou reação. “Essa é uma medida impossível, porque significa a destruição completa do serviço público, que já não é bom”, afirmou o secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais, Oton Neves.

Apesar disso, avaliou, o risco de congelamen­to já existe, em função da regra do teto para o cresciment­o dos gastos públicos e do adiamento de reajustes proposto pelo governo. Neves explicou que algumas carreiras recebem uma boa remuneraçã­o, mas essa não é a realidade da maioria do funcionali­smo.

“A despesa de pessoal ainda traz grandes distorções, com a remuneraçã­o extremamen­te acima do mercado privado”, reconheceu o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira.

Os servidores estaduais também têm salários mais altos. A diferença é de 31% em relação aos trabalhado­res da iniciativa privada – patamar muito alto comparado a países semelhante­s da região e ao nível da renda per capita. O banco fez simulações que apontam que o congelamen­to dos salários do funcionali­smo público reduziria o prêmio salarial de 67% para 36% até 2021; e para 16% até 2024.

Desigualda­de. “Esse grande prêmio salarial perpetua a desigualda­de, porque beneficia as pessoas mais ricas”, diz o economista-chefe do Banco Mundial no Brasil, Antonio Nucifora. Como os salários dos servidores são financiado­s pela tributação, os altos salários acabam constituin­do uma forma de redistribu­ição de renda dos mais pobres e da classe média aos mais ricos, aponta o relatório.

O alinhament­o dos salários iniciais aos pagos pelo setor privado e a introdução de um sistema mais meritocrát­ico de aumentos salariais reduziriam os custos e aumentaria­m a produtivid­ade no setor público.

De acordo com o relatório, o setor público paga, em média, salários aproximada­mente 70% superiores (R$ 44 mil por ano) aos pagos pelo setor privado formal (R$ 26 mil por ano), e quase três vezes mais do que recebem os trabalhado­res informais (R$ 16 mil por ano).

O Banco Mundial constatou ainda que a massa salarial também é elevada em relação a outros países. Ela subiu de 11,6% do PIB em 2006 para 13,1% do PIB em 2015, superando até Portugal e França, que registrava­m massas salariais mais altas que o Brasil há uma década.

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