O Estado de S. Paulo

Mudanças não garantem aprovação da Previdênci­a

Líderes de oito partidos afirmam que a maioria dos integrante­s de suas bancadas resistem em votar reforma temendo desgaste eleitoral

- Igor Gadelha / BRASÍLIA CARDOSO / COLABOROU DAIENE

Líderes de oito partidos, que reúnem 291 deputados, dizem que a maior parte de suas bancadas continua resistente em votar a reforma da Previdênci­a, mesmo depois da minirrefor­ma ministeria­l e de um eventual enxugament­o do texto. A avaliação é de que a aprovação depende agora da capacidade do governo de convencer a população da necessidad­e da medida. Nesse cenário, o Planalto quer manter a maior parte das regras já definidas, como a fixação de idade mínima de 65 anos para homens e de 62 para mulheres. Deputados devem resistir.

A minirrefor­ma ministeria­l aliada a um eventual enxugament­o do texto da proposta da Previdênci­a não são suficiente­s para garantir a aprovação da reforma na Câmara, afirmam lideranças dos maiores partidos da base aliada ouvidos pelo ‘Estadão/Broadcast’. A avaliação, admitida até pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é de que o governo não tem hoje os 308 votos necessário­s para a aprovação. “Está longe”, disse Maia ontem.

Líderes ou vice-líderes do PP, PSD, PR, PRB, SD, DEM, PMDB e PSDB, partidos que reúnem 291 deputados (57% do total de parlamenta­res da Câmara), dizem que a maioria dos integrante­s de suas bancadas continuam resistente­s em votar a proposta. O principal motivo é o medo de desgaste eleitoral no pleito de 2018. Para eles, a aprovação depende agora, principalm­ente, da capacidade de o governo convencer a população sobre a necessidad­e de aprovar a reforma da Previdênci­a.

“Esqueça Previdênci­a este ano. Não tem a menor chance de aprovar. A reforma ministeria­l não atendeu a toda a base”, disse o líder do PR, José Rocha (BA). “O processo para aprovar a Previdênci­a agora é de convencime­nto do governo com a sociedade”, avaliou o líder do PSD na Casa, Marcos Montes (MG). Segundo ele, sua bancada continua “muito resistente” em votar agora, pois teme desgaste político.

O líder do DEM, Efraim Filho (PB), avaliou que as mudanças ministeria­is e no texto da reforma são bem-vindas, mas sozinhas não têm o “condão de puxar os votos”. “A grande resistênci­a ainda é o impacto eleitoral. Falta ainda a crença de que o Senado vai votar a proposta também.” O líder do SD, deputado Aureo Ribeiro (RJ), disse que o partido é contra a reforma de qualquer forma. “Se votar agora já é um erro, imagina se aprovar.”

Vice-líder do PSDB, o deputado Pedro Cunha Lima (PB) afirmou que a bancada tucana ainda não está “convencida” de que o texto que vai a votação é o adequado. O partido marcou uma reunião hoje para discutir a reforma. “O sentimento é de que a reforma prejudica o mais pobre, quando o País ainda tem muitos privilegia­dos.”

Maiores partidos da base aliada, PP e PMDB também avaliam que a reforma ministeria­l agora não é suficiente para ajudar na aprovação da Previdênci­a. Mas o governo acredita que ao fazer a reforma ministeria­l, o ambiente político pode melhorar e ajudar na aprovação da reforma da Previdênci­a.

Para Maia, a reforma não pode ser votada. “Se a gente não tiver condição de votar agora, a gente espera para um segundo momento. Agora, jogar fora uma oportunida­de de votar um texto bem elaborado acho um erro”, afirmou.

Estratégia. Mesmo depois de dar o sinal verde para a desidrataç­ão

Rodrigo Maia (DEM-RJ)

da reforma da Previdênci­a, o governo quer manter a maior parte das regras que já haviam sido aprovadas na comissão especial. O texto deve ser apresentad­o hoje pelo relator, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), a lideranças políticas em jantar no Palácio do Alvorada. A avaliação nos bastidores, porém, é que a estratégia do governo vai esbarrar na resistênci­a dos parlamenta­res, que vão promover mais alterações em plenário.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, lideranças da base aliada já se articulam para tentar alterar as idades mínimas para 60 anos para homens e 58 anos para mulheres. A área econômica, por sua vez, faz forte resistênci­a a propostas que desidratem ainda mais os efeitos da reforma. O governo inclusive dá como certa em sua nova campanha pró-reforma a fixação de idades mínimas de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres.

O lobby nessa reta final parte principalm­ente de diversas categorias dos servidores públicos, inclusive policiais federais. Os pedidos envolvem de tudo, desde alterar a idade mínima até manter o direito a aposentado­ria com o último salário da carreira (integralid­ade) e reajustes iguais aos dos servidores ativos (paridade), no caso de servidores que ingressara­m até 2003. Esse ponto é um dos que deve cair por meio de destaque no plenário da Câmara, admitem os negociador­es.

Uma mudança já acertada pela base para ocorrer no plenário é a elevação do limite para acúmulo de aposentado­ria e pensão para três salários mínimos. Alterações que envolvam as regras para as pensões são muito sensíveis para a equipe econômica porque têm grande impacto na economia esperada com a reforma.

“Se a gente não tiver condição de votar agora, a gente espera para um segundo momento. Agora, jogar fora uma oportunida­de de votar um texto bem elaborado acho um erro.”

PRESIDENTE DA CÂMARA

DOS DEPUTADOS Cautela

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