O Estado de S. Paulo

Deputados do Rio voltam à prisão; PGR vai ao Supremo

Tribunal Regional Federal derruba decisão da Alerj e manda de novo para a cadeia cúpula do PMDB; Raquel Dodge pede anulação de ato de parlamenta­res estaduais

- Constança Rezende / RIO

Por cinco votos a zero, o Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2) determinou ontem o restabelec­imento das prisões do presidente da Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj), Jorge Picciani, do líder do governo, Edson Albertassi, e do deputado estadual Paulo Melo, todos do PMDB. A ordem de soltura concedida pela própria Alerj na sexta-feira levou também a uma reação da procurador­a-geral da República, Raquel Dodge. Ontem, ela ajuizou uma ação no Supremo Tribunal Federal na qual pede a suspensão do ato dos parlamenta­res fluminense­s e afirma que não cabe a deputados estaduais rever prisão de colegas, a exemplo do que ocorre no Congresso.

Os peemedebis­tas foram presos pela primeira vez na quintafeir­a passada por ordem do TRF-2 no âmbito da Operação Cadeia Velha, que investiga esquema de corrupção no Legislativ­o estadual envolvendo empresário­s do setor de transporte­s do Rio. No dia seguinte, eles deixaram a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio, em carros oficiais, e para lá voltaram ontem, depois de se apresentar­em na sede da Superinten­dência da Polícia Federal.

Raquel afirmou que a decisão do plenário do Supremo – que beneficiou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) – determinan­do que cabe ao Congresso dar aval a medidas cautelares impostas a parlamenta­res federais não se estende a deputados estaduais. No pedido para que a Corte analise a questão, a procurador­a-geral ainda afirmou que o Rio é “uma terra sem lei”. Raquel quer a anulação da decisão dos deputados estaduais fluminense­s (mais informaçõe­s na pág. A6).

Ontem à noite, o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) anulou a sessão da Alerj em que foi decidida a soltura dos deputados. Os desembarga­dores acataram o argumento do Ministério Público de que o deputado Wagner Montes (PRB), que presidiu a sessão, e a Mesa Diretora ignoraram liminar concedida pela Justiça que determinav­a a abertura das galerias para que cidadãos acompanhas­sem os votos.

O retorno à prisão dos três peemedebis­tas – que haviam pedido licenciame­nto das atividades parlamenta­res – foi ordenada depois de questão de ordem do relator do processo na 1.ª Seção Especializ­ada do TRF-2, Abel Gomes. Ele argumentou que a soltura deveria ter passado pelo tribunal, o que não ocorreu. Um funcionári­o da Alerj levou a ordem à cadeia e não houve notificaçã­o antes da sessão. Apenas ontem à noite a Alerj afirmou que notificari­a a Justiça.

Julgamento. Inicialmen­te, a sessão seria feita apenas para decidir se os deputados seriam afastados de suas funções na Alerj, mas o desembarga­dor-relator pediu o restabelec­imento da prisão. “Só pode expedir alvará de soltura quem determina a prisão. O ato de revogação da prisão só poderia ser expedido por órgão competente, o Judiciário, que portanto somos nós. Por óbvio, só expede alvará de soltura quem expede alvará de prisão”, afirmou Gomes.

Ele sustentou que a ação foi uma “completa violação à Constituiç­ão”. “Até este momento (ontem à tarde), não recebi nenhum ofício da Alerj nem sequer citando o resultado da votação para que o TRF pudesse adotar as providênci­as”, disse. A decisão também determinou que, caso o alvará não fosse cumprido, forças federais, por meio do STF, interviess­em no Rio.

Os demais magistrado­s da 1.ª Seção acompanhar­am o voto de Gomes. Paulo Espírito Santo afirmou que a libertação dos deputados “pareceu resgate de faroeste”. “Eles foram resgatados sem nenhuma ordem judicial”, disse. “A decisão foi estarreced­ora. A Alerj escreveu uma página negra em sua história.”

O procurador da República Carlos Aguiar afirmou que a decisão do TRF-2 “foi histórica” e terá “repercussã­o nacional” no Supremo. “O MP se mostra satisfeito. Essas pessoas têm relevância, não só no Rio, como no contexto nacional, e precisam voltar para o seu encarceram­ento”, disse o procurador, que atua na Cadeia Velha, desdobrame­nto da Lava Jato. Já a procurador­a Silvana Battini afirmou que a decisão recoloca a ação “dentro do devido processo legal”.

Os deputados são acusados de receber propina para beneficiar empresas do setor de construção e de transporte urbano por meio de decisões favoráveis a elas no Legislativ­o fluminense. O esquema de corrupção existiria desde os anos 1990, segundo o MPF. Os parlamenta­res negam as acusações.

“Só pode expedir alvará de soltura quem determina a prisão. O ato de revogação da prisão só poderia ser expedido por órgão competente, o Judiciário.” Abel Gomes RELATOR NO TRF-2

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FOTOS WILTON JUNIOR/ESTADÃO Retorno. O presidente da Alerj, Jorge Picciani, se entregou novamente à PF ontem à tarde após segunda decisão judicial
 ??  ?? Defesa. Paulo Melo diz que decisão foi ‘injusta’
Defesa. Paulo Melo diz que decisão foi ‘injusta’
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Líder. Edson Albertassi disse confiar na Justiça

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