O Estado de S. Paulo

PATRIOTAS ACUSA BOLSONARO: ‘USURPADOR’

Para dirigente do partido em formação, Patriota (PEN), ligado ao deputado, ‘roubou’ sua ideia

- Gilberto Amendola

O“S” da discórdia. O Coronel Castro, presidente do Patriotas, partido em processo de formação desde 2015, acusa o deputado Jair Bolsonaro (PSCRJ) e o presidente do PEN – legenda já deu início ao processo para mudar o nome para Patriota – Adilson Barroso, de “roubo de nome, estelionat­o político e atitude usurpadora”. O Patriotas entrou com dois processos por uso indevido da marca e participa de um pedido de impugnação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a legenda que pretender abrigar o sonho presidenci­al de Bolsonaro no ano que vem.

Sem as assinatura­s necessária­s para a formalizaç­ão da sigla, Castro já havia desistido de disputar as eleições de 2018, mas trabalhava tendo 2020 como horizonte possível. Eis que em julho o telefone tocou no escritório: “Vocês fecharam com o Bolsonaro?”, perguntou um seguidor. Foi assim que Castro descobriu que o PEN (Partido Ecológico Nacional) estava mudando o seu nome para Patriota e lançando Bolsonaro como seu candidato à Presidênci­a.

“Nós nos sentimos ultrajados. Foi uma falta de ética. O nome no singular só serve para ludibriar o eleitor. Não éramos um partido clandestin­o. Nosso CNPJ está registrado em Brasília e no site do TSE. Fiquei até doente. Vi todo nosso trabalho indo embora – e vários apoiadores ficando confusos”, disse.

Além do nome parecido, o Patriota tem usado a denominaçã­o abreviada PATRI, a mesma que os organizado­res do Patriotas usam para identifica­r o partido em formação. A confusão pode ser acompanhad­a nas páginas do Patriotas nas redes sociais – onde diversos seguidores têm perguntado sobre a campanha do deputado Jair Bolsonaro. A confusão se justifica. Até a identidade visual dos dois partidos é semelhante.

Para Castro, a diferença mais importante é mesmo o “S”. “O Patriota é uma sigla personalis­ta, que serve apenas para reforçar a imagem do próprio Bolsonaro. A ideia deles é: ‘Bolsonaro, o Patriota’. Já a nossa é uma ideia coletiva de pessoas que lutam por um Brasil melhor, os patriotas”, disse.

Reposicion­amento. O aparecimen­to do Patriota fez com que o Patriotas deixassem um pouco um discurso de extrema direita para flertar com o centro. “Não defendemos intervenci­onismo. Nosso lema agora é ‘Nem para esquerda, nem para a direita. É para frente que o Brasil deve andar’”.

O advogado do Patriotas, e filho do presidente do partido, Vinícius de Castro, conta que chegou a ligar para Jair Bolsonaro em busca de explicaçõe­s. “Ele foi omisso. Disse que não tinha nada a ver com isso, que sequer estava fechado com ele (Adílson Barroso) e que uma briga judicial iria prejudicar toda a direita”, contou. O telefonema seguinte foi para o próprio Barroso, que, ainda segundo o advogado, teria sido “ríspido” e dito que “eles não tinham direitos sobre o nome e que não estava nem aí”. Por fim, Barroso teria sugerido que o grupo do Patriotas se agregasse ao Patriota nas eleições e, assim, pudesse usufruir da legenda”.

Bolsonaro e sua assessoria de imprensa não respondera­m aos questionam­entos da reportagem sobre o assunto. Já Barroso tem outra versão sobre o telefonema e a paternidad­e do nome. “O nome foi uma ideia do Bolsonaro e da sua equipe. Não foi minha. Eles sequer têm um partido. Quando nos falamos por telefone, eu disse que desistiria do nome se eles me apresentas­sem 10 mil assinatura­s de apoiadores. Eles não tinham nada. Ou seja, não existiam”, disse.

Sem acordo, o Patriotas entrou com dois processos sobre registro de marcas e patentes. Um deles corre em São Paulo, no Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF-3) e o outro no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Território­s (TJDFT), em Brasília. O partido em formação também é um dos autores do processo de impugnação da legenda movida por dois deputados do próprio PEN/Patriota, Junior Marreca (MA) e Walney Rocha (RJ), devido às mudanças feitas no estatuto do partido (mais informaçõe­s nesta página).

TSE. Segundo o TSE, “duas legendas não podem ter nomes similares a ponto de serem distinguid­os apenas pelo singular e o plural da mesma palavra.” Apesar da norma, “a decisão sobre a existência de usar o nome Patriota(s) deve ser apreciada pela Corte Eleitoral após a apresentaç­ão de um pedido nesse sentido – o que ainda não aconteceu”. Apesar da regra, a decisão da Corte pode permitir a convivênci­a de nomes similares, como já acontece, por exemplo, com PCB e PCdoB.

Oficialmen­te, o PEN ainda não é Patriota. De acordo com o TSE, “o processo número 153572, da alteração do registro do PEN, ainda está tramitando e encontra-se atualmente no gabinete do ministro Jorge Mussi”. Não existe data definida para a apreciação do tema. O novo nome do PEN só passa a valer após a publicação, no Diário da Justiça Eletrônico, da decisão do plenário da Corte Eleitoral que acatou a alteração. Já no caso de um partido novo, como o Patriotas, o nome passou a valer no momento do protocolo do pedido de registro. “Acredito que a lei está do nosso lado. Não vamos desistir do nome. Bolsonaro é impulsivo, doidão, toma atitudes que a gente não tomaria. Se ele tivesse a ética que diz que tem, deveria ter me ligado antes, deveria sentar para conversar com as forças de direita antes de sair...”, disse Castro.

 ?? CLAUDIO ALMEIDA/ESTADÃO–14/11/2017 ?? Coronel. Castro, do Patriotas, partido que está em processo de formação, quer a impugnação do Patriota, atual PEN
CLAUDIO ALMEIDA/ESTADÃO–14/11/2017 Coronel. Castro, do Patriotas, partido que está em processo de formação, quer a impugnação do Patriota, atual PEN
 ?? CHRISTOPHE­R GOODNEY/BLOOMBERG–12/10/2017 ?? Disputa. Bolsonaro ainda não decidiu se muda de partido
CHRISTOPHE­R GOODNEY/BLOOMBERG–12/10/2017 Disputa. Bolsonaro ainda não decidiu se muda de partido

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