Líderes africanos pediram saída de ditador
Os principais líderes africanos estavam constrangidos com a presença de Robert Mugabe em reuniões de cúpula regionais. De acordo com documentos da polícia secreta do Zimbábue, aos quais a Reuters teve acesso, eles pressionavam o ditador zimbabuano a renunciar muito antes de o Exército entrar em cena.
“Os membros da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) querem que Mugabe se aposente. Ele é considerado uma vergonha para o continente africano”, diz o relatório da Central Intelligence Organization (CIO), a polícia secreta do Zimbábue, durante anos a principal ferramenta da repressão de Mugabe a opositores.
Momento de silêncio. Ontem, os congressistas se reuniram no Centro Internacional de Conferências de Harare para debater e votar a destituição de Mugabe. O local foi escolhido a dedo para acomodar as duas Casas do Parlamento. Um a um, os parlamentares iam discursando, todos denunciando o ditador e defendendo o impeachment.
De repente, o presidente do Parlamento, Jacob Mudenda, interrompeu a sessão extraordinária sem dar nenhuma justificativa. Sem entender o que estava acontecendo, os congressistas fizeram então um silêncio sepulcral, temendo alguma reviravolta no caso.
Quando Mudenda anunciou a renúncia, o plenário improvisado virou um pandemônio, com deputados e senadores se abraçando e comemorando a queda do ditador. Imediatamente, as ruas de Harare foram tomadas por uma multidão com instrumentos musicais e carreatas barulhentas para celebrar o fim do regime.
Ontem, após reunião de líderes da SADC, os presidentes da África do Sul, Jacob Zuma, e de Angola, João Lourenço, anunciaram que viajarão hoje para o Zimbábue. De todos os líderes africanos, Zuma é o mais preocupado com a crise, que pode respingar em seu governo. Líderes do Congresso Nacional Africano (CNA), partido governista da África do Sul, pediram ontem mudanças no país. “Precisamos fazer uma correção de rumo, como fez o Zimbábue”, disse Jackson Mthembu, deputado do CNA.