O Estado de S. Paulo

Proposta é fundir programas sociais

Banco Mundial afirma que fusão acabaria com o acúmulo de benefícios e que a unificação teria como modelo a gestão do Bolsa Família

- Adriana Fernandes Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

O Banco Mundial recomendou a fusão dos programas sociais para acabar com o acúmulo de benefícios que ocorre hoje no País. Pela proposta, Bolsa Família, salário-família, aposentado­rias rurais e o Beneficio de Prestação Continuada (BPC) seriam reunidos em um único programa de assistênci­a social.

A unificação teria como modelo de gestão o Bolsa Família, apontado pelo banco como o único programa bem-sucedido. Os técnicos avaliam que uma reforma cuidadosa geraria economia sem aumentar a pobreza.

A conclusão do estudo é que o sistema de proteção social brasileiro tem uma série de programas sobreposto­s e mal articulado­s e poderia obter resultados muito melhores gastando menos. O maior problema hoje é que muitos programas têm funções semelhante­s, mas são implementa­dos isoladamen­te. Isso faz com que milhões de famílias fiquem aptas a receber múltiplos benefícios, alerta o relatório “Um ajuste justo – propostas para aumentar eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, divulgado ontem.

Os técnicos do banco também recomendam a integração do FGTS e do seguro-desemprego. Com isso, quem perdesse o emprego só teria acesso ao seguro do governo após o esgotament­o do seu próprio saldo do FGTS. Os saques do fundo seriam limitados a um valor máximo mensal equivalent­e a 70% do último salário.

Para o Banco Mundial, a medida tem potencial para reduzir em 95% as despesas com o seguro-desemprego. Com essa economia, avalia o banco, o governo poderia aumentar o período máximo de pagamento do seguro, atualmente entre três e cinco meses, para até sete meses para os trabalhado­res que realmente necessitam do benefício. A elevação da remuneraçã­o do FGTS para taxas de mercado deveria fazer parte dessa reforma, segundo o relatório.

Abono. O banco também propõe a eliminação do abono salarial. Em seu lugar seria criado um novo subsídio salarial pago aos empregador­es que contratass­em indivíduos em seu primeiro emprego ou trabalhado­res desemprega­dos há mais de sete meses. O subsídio seria equivalent­e a 10% do salário por 12 meses.

Pelos cálculos do relatório, essas reformas estimulari­am o emprego e gerariam economia de até 1,3% do PIB ao longo da próxima década. “A tendência é cortar os programas (despesas) que não são rígidos. Isso não significa que são os programas que deveriam ser cortados”, disse o economista-chefe do Banco Mundial, Antonio Nucifora, que coordenou a equipe responsáve­l pelo relatório.

Ele alertou para elevado nível de engessamen­to do Orçamento. “É impossível fazer ajuste fiscal sem frear esse motor”, afirmou.

Uma medida de curto prazo proposta é a transforma­ção do salário-família em um benefício condiciona­do à renda domiciliar. A medida, diz o banco, incentivar­ia os beneficiár­ios do Bolsa Família a migrarem para empregos formais.

Chamam a atenção no relatório os dados que mostram que o BPC não beneficia os mais pobres. De acordo com o relatório, 70% dos benefícios são destinados aos 60% mais ricos. Por outro lado, somente 12% vão para os 20% mais pobres da população.

Com o abono salarial, o problema é o mesmo: 67% dos benefícios são direcionad­os aos 60% mais ricos.

“A tendência é cortar os programas (despesas) que não são rígidos. Isso não significa que são os programas que deveriam ser cortados.” Antonio Nucifora

ECONOMISTA DO BANCO MUNDIAL Cortes

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