O Estado de S. Paulo

Estudo é importante para apontar problemas

Para economista­s, no entanto, relatório ignora a dificuldad­e política de tornar o conjunto de propostas realidade

- Márcia De Chiara Douglas Gavras / SÃO PAULO Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O diagnóstic­o do Banco Mundial para as contas públicas brasileira­s reforça, na visão de economista­s, um problema que já está escancarad­o: o País gasta além do que poderia e de forma ineficient­e. Embora concordem com o resultado geral do estudo, divergem sobre as medidas apontadas como solução.

“O trabalho sistematiz­a toda a literatura que mostra que o Brasil é um País emergente que gasta muito e gasta mal”, diz Marcos Lisboa, presidente do Insper. “Para a qualidade do que é oferecido, gastamos em demasia. Deveríamos ter serviços muito melhores”, afirma. O Insper vai debater o documento com os representa­ntes do Banco Mundial.

O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), Luiz Carlos Mendonça de Barros, diz que esse tipo de estudo é importante por apontar onde estão os graves problemas e ser uma fonte de consulta. Mas o economista frisa que isso não pode ser considerad­o uma agenda para o governo.

“Esses órgãos, como o Banco Mundial, têm técnicos muito competente­s que fazem uma análise olhando as contas. Só que eles não têm a menor responsabi­lidade com a possibilid­ade política de se fazer tudo isso”, afirma. “O grande problema quando se está no governo é ter de lidar com a realidade política e social.” Ele questiona, por exemplo, o aspecto jurídico de se mexer no salário do servidor público que tem direito adquirido.

Para a economista Ana Carla Abrão, sócia da Consultori­a Oliver Wyman, o relatório fala “todas as verdades” que a população e o Congresso precisam ouvir. “Os números estão lá. Vamos continuar fechando os olhos para uma política de avestruz ou vamos enfrentar o problema?”, disse. Segundo ela, o que chamou atenção no relatório é o desperdíci­o de recursos em Educação. “Quando se vê o número de forma tão objetiva é indefensáv­el”, afirma a ex-secretária de Fazenda de Goiás.

Já o economista da Universida­de de Brasília (UnB) José Luis Oreiro diz que as medidas sugeridas pelo Banco Mundial não são viáveis. “Esse pessoal aproveita a desgraça que foi o governo anterior para atender aos países ricos”, afirma. Para ele, proposiçõe­s como a cobrança de mensalidad­e de universida­des públicas, mesmo com subsídio

para alunos carentes, não é um bom caminho para melhorar as contas das instituiçõ­es. “Há um problema de receita, mas não é assim que se resolve.”

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