O Estado de S. Paulo

Mercado às cegas para 2018

- E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS

No fim de novembro de 2013, há exatos quatro anos, os investidor­es tinham praticamen­te definido o quadro político que moldaria as eleições presidenci­ais de 2014: uma polarizaçã­o entre PT (Dilma Rousseff) e PSDB (Aécio Neves) com uma terceira via (Eduardo Campos) sendo o risco ganhando tração. Foi o que mostrou pesquisa Datafolha divulgada em 30 de novembro de 2013.

O mercado sabia, já nos últimos meses de 2013, exatamente o que esperar dos preços no ano seguinte: toda vez que a petista crescia nas intenções de voto, a Bolsa caía e o dólar subia. E toda vez que ela perdia terreno nas pesquisas, o mercado ficava em festa.

Com o périplo que Campos, do PSB, fez a bancos de investimen­tos e grandes empresas ao longo de 2013, conquistan­do a confiança de banqueiros e empresário­s sobre a sua plataforma econômica, o cenário para o Brasil em 2014 resumia-se ou à continuida­de da Nova Matriz Econômica ou a chegada ao poder de um presidente com uma agenda econômica “market friendly”, ou pró-mercado.

Com respaldo de economista­s como Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende, a então terceira via das eleições de 2014, na figura do PSB, não era vista pelo mercado como um risco desestabil­izador caso ocorresse uma surpresa no desfecho do pleito.

Agora, a situação não poderia ser mais diferente: os investidor­es estão completame­nte no escuro sobre quem serão os candidatos nas eleições presidenci­ais de 2018, sobre o que estará em jogo (uma vez que a tradiciona­l polarizaçã­o PT versus PSDB pode não acontecer) e sobre o risco de uma terceira via que represente um franco atirador à la Fernando Collor de Mello.

Diante de uma situação fiscal tão frágil, os investidor­es estão dando ao Brasil uma trégua até o final do mandato do presidente Michel Temer na expectativ­a de que o vencedor na eleição presidenci­al de 2018 seja alguém que represente a continuida­de da atual política econômica e que faça as reformas estruturai­s necessária­s para controlar os gastos públicos.

Mas esse crédito dos investidor­es, refletido numa cotação do dólar bem comportada, pode desaparece­r de uma hora para outra se, por exemplo, ficar claro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será mesmo candidato, ou seja, se o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª região revogar a condenação do petista pelo juiz Sérgio Moro, livrando-o da Lei da Ficha Limpa.

Ou se os maiores partidos da base de apoio do presidente Michel Temer (PSDB, PMDB e DEM) lançarem mais de um nome às eleições de 2018, diminuindo a competitiv­idade de um candidato governista chegar ao segundo turno. E que a terceira via ganhe músculo e se aglutine em torno de uma candidatur­a como a do deputado Jair Bolsonaro.

No patamar atual, a Bolsa de Valores e o câmbio apontam para a vitória de um candidato da base governista e com uma plataforma baseada no avanço de reformas econômicas. Mas o otimismo do mercado pode estar exagerado, uma vez que não se tem a menor ideia se esse candidato governista será competitiv­o nem se a esquerda ou uma terceira via hostil vão ganhar mais apoio de eleitores.

E se o TRF demorar para definir a situação de Lula (o registro oficial das candidatur­as ocorre em 15 de agosto), qual será o estrago aos preços dos ativos ate lá? Qual seria então o efeito sobre os investimen­tos e a retomada da atividade econômica?

“As eleições de 2018 serão um foco-chave da atenção do mercado e uma fonte de incerteza econômica de risco de mercado”, alerta o economista-chefe para América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, em nota a clientes. Ele prevê um cresciment­o do PIB de 2,7% em 2018, acima do potencial atual da economia brasileira.

Um desfecho populista/heterodoxo das eleições presidenci­ais poderá, na visão de Ramos, detonar uma reação adversa do mercado e solapar a sustentabi­lidade da recuperaçã­o econômica em curso.

Ao contrário do último pleito presidenci­al, o mercado está entrando no ano eleitoral de 2018 com um grau de incerteza poucas vezes visto antes. E essa incerteza poderá causar muito mais barulho do que o mercado aposta hoje.

✽ É COLUNISTA DO BROADCAST

O investidor não tem ideia de quem serão os candidatos nas eleições presidenci­ais

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