O Estado de S. Paulo

Perdas com Lei Kandir custarão bilhões à União

Comissão da Câmara aprovou cronograma de pagamento aos Estados que chegará a R$ 39 bi por ano de forma perene a partir de 2019

- Fabrício de Castro / BRASÍLIA

Em meio às dificuldad­es do governo para o fechamento das contas públicas, foi aprovada ontem, em comissão especial da Câmara, proposta que prevê o pagamento pela União de valores bilionário­s aos Estados a partir de 2019, como compensaçã­o às perdas com a Lei Kandir. A proposta, que ainda precisará passar pelo plenário da Casa e do Senado, indica um valor global de R$ 39 bilhões a cada ano, de forma perene.

Os pagamentos representa­riam o ressarcime­nto aos Estados pelas perdas com a desoneraçã­o de ICMS nas exportaçõe­s de produtos primários e semielabor­ados. A medida foi estabeleci­da pela Lei Kandir, em 1996, para estimular as exportaçõe­s. No entanto, as regras de compensaçã­o dos entes federativo­s, como previa a legislação na época, nunca foram estabeleci­das.

O montante foi calculado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). O cronograma elaborado pela comissão prevê que os pagamentos cheguem a R$ 19,5 bilhões em 2019 (50% do total); R$ 29,25 bilhões em 2020 (75%) e, por fim, aos R$ 39 bilhões a partir de 2021 (100%). Ficariam nesse patamar a partir daí, com o valor de referência reajustado pela inflação a cada ano.

A ideia é que os montantes em atraso sejam pagos pela União em 30 anos, mas o pagamento anual perdurará, segundo o texto aprovado pelos parlamenta­res. Do total distribuíd­o aos Estados, 25% vão para os municípios.

Regra. Não bastassem os pagamentos programado­s para ocorrer anualmente, foi estabeleci­do na proposta que a compensaçã­o das perdas passadas dos Estados com a Lei Kandir – cujos valores podem chegar a R$ 700 bilhões – também ocorrerá a partir de 2019. Essa compensaçã­o diz respeito às perdas de arrecadaçã­o de ICMS ocorridas entre 1996 e 2019, sendo que os valores exatos serão calculados pelo Confaz.

A expectativ­a, no entanto, é de que a tramitação da proposta no plenário da Câmara e no Senado seja complicada. O governo vai tentar barrar a proposta, que cairia como uma bomba no Orçamento. O deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), presidente da comissão especial, afirmou que, apesar da resistênci­a do governo, há indicações de que os deputados estão dispostos a aprovar a proposta.

“Já temos tido sinalizaçõ­es diversas, na bancada de Minas Gerais e do Pará, que independen­temente de divergênci­as partidária­s, essas bancadas estão convencida­s da necessidad­e de corrigir a deformação.”

Estados como Pará e Minas Gerais são alguns dos principais interessad­os, justamente por terem a pauta de exportação bastante ligada a produtos primários.

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