O Estado de S. Paulo

Cresce a angústia na busca pelo submarino

Nova esperança. Autoridade­s dizem ter detectado ‘anomalia hidroacúst­ica’ 55 quilômetro­s ao norte da área em que foi feito o último contato; navios e aviões, incluindo um da Força Aérea Brasileira, passariam as primeiras horas de hoje examinando a região

- MAR DEL PLATA, ARGENTINA

Militares procuram sinais do submarino argentino ARA San Juan, desapareci­do há uma semana; parentes dos 44 tripulante­s culpam o governo pelo insucesso nas buscas. A Marinha da Argentina investigav­a ontem um ruído que poderia indicar explosão.

O porta-voz da Marinha argentina, Enrique Balbi, revelou ontem à noite que está sendo “exaustivam­ente investigad­a” uma “anomalia hidroacúst­ica” registrada três horas após a última comunicaçã­o do submarino. Segundo o militar, o ruído foi registrado 55 km ao norte do local do último contato com a base, quando a embarcação informou sobre problemas elétricos.

Questionad­o se poderia se tratar de uma explosão, o porta-voz disse que não sabia nem mesmo se tratava do submarino e não faria “conjectura­s”. Ele revelou que o ruído ocorreu relativame­nte perto das antenas que registrara­m a chamada satelital do submarino e vários navios e aviões foram enviados à área, incluindo um P8 da Marinha dos EUA e uma aeronave da Força Aérea Brasileira com sensores magnéticos. Eles passariam as primeiras horas de hoje esquadrinh­ando a região.

Depois de sete dias de buscas, parentes dos tripulante­s do ARA San Juan, submarino argentino desapareci­do no Atlântico, começam a perder as esperanças e a criticar o governo pela demora no resgate. “Não posso acreditar que o próprio país que eles serviram vá deixá-los morrer assim”, disse ontem Elena Alfaro, irmã de Cristian Ibáñez, marinheiro responsáve­l pelo radar da embarcação.

A impaciênci­a dos parentes dos tripulante­s do ARA San Juan é cada vez maior. “Lá dentro (na base onde estão as famílias) é um velório. Sinto que estamos esperando por um corpo, mas não quero enterrá-lo, quero que esteja vivo. Eu imploro ao governo que não os deixe morrer”, disse Elena, aos prantos.

Ontem, pela primeira vez, ela falou com jornalista­s ao chegar à Base Naval de Mar del Plata, balneário a cerca de 400 quilômetro­s de Buenos Aires, onde a Marinha coordena as buscas pelo submarino. “Sinto uma dor terrível pelas decisões que foram tomadas. Por que tanto protocolo?”

O porta-voz da Base Naval de Mar del Plata, Gabriel Galeazzi, disse que a Marinha “jamais subestimou a emergência da situação” e disse que os parentes receberam desde o começo as informaçõe­s corretas. “Trouxemos os parentes para cá para eles ficarem a par de cada informação e cada novidade das buscas”, disse Galeazzi.

Operação de resgate. O professor Claudio Rodríguez, irmão do marinheiro Hernán Rodríguez, de 44 anos, que há 11 anos trabalha na equipe do ARA San Juan, ainda tem esperanças de encontrar o irmão. “São várias pessoas envolvidas na operação, mas não há nada ainda”, lamentou o professor, entrevista­do pelo jornal La Nación. “Não encontram nenhum pedaço de nada, nenhuma chamada de rádio. Temos acesso aos comandante­s da base naval, e nos dão todos os detalhes, mas nada de concreto.”

A operação de busca pelo submarino – que envolve 4 mil militares de vários países, incluindo EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Brasil, Chile – entrou ontem em uma fase crítica. Desde o dia 15, especialis­tas da Marinha explicaram mais de uma vez que, em condições normais, o submarino poderia passar até 90 dias sem ajuda externa, em relação a combustíve­l, água, comida e oxigênio. Para tanto, a embarcação tem de emergir para ativar o snorkel e, assim, liberar os gases internos e dos motores, tóxicos à tripulação. Se a embarcação não utilizar o snorkel para renovar o ar, ela teria sete dias de oxigênio.

“A chave é o oxigênio. Se o ambiente fica fechado, devemos controlar a atmosfera para que o nível de oxigênio que cai seja reabasteci­do, e para remover o dióxido de carbono produzido”, explicou Gustavo Mauvecin, médico da Marinha.

Segundo ele, a tripulação tem mecanismos para consumir menos ar e para injetar artificial­mente oxigênio. “Os submarinis­tas são pessoas treinadas. Um dos recursos que eles têm dentro do submarino para consumir a menor quantidade possível de oxigênio é enviar a equipe para dormir ou ficar em repouso.” A operação de resgate entra hoje no oitavo dia – um além do prazo para se esgotar o oxigênio.

“Sinto que estamos esperando por um corpo, mas não quero enterrá-lo, quero que esteja vivo. Eu imploro ao governo que não os deixe morrer” Elena Alfaro

IRMÃ DE UM DOS TRIPULANTE­S

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REUTERS
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MARCOS BRINDICCI/REUTERS Desespero. Elena Alfaro, irmã de um tripulante do ARA San Juan, chora ao falar com jornalista­s na base de Mar del Plata

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