O Estado de S. Paulo

Vice volta ao Zimbábue e anuncia nova democracia

Mnagagwa assume a presidênci­a do país amanhã depois da renúncia de Mugabe

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O vice-presidente do Zimbábue, Emmerson Mnagagwa, retornou ontem ao país e deverá ser empossado presidente amanhã. Em seu primeiro discurso desde o início da crise que levou à intervençã­o do Exército e à renúncia do presidente Robert Mugabe, Mnangagwa anunciou ontem o “início de uma nova democracia”.

Prometendo “servir ao povo”, o vice-presidente, de 75 anos, pediu que “todos os patriotas trabalhass­em juntos”. “Queremos o cresciment­o de nossa economia, queremos empregos”, disse. O Zimbábue enfrenta um desemprego em massa, uma crise de liquidez e um endividame­nto crescente.

Dezenas de pessoas se amontoaram na saída do aeroporto para dar boas-vindas ao novo líder com cartazes de apoio a Mnangagwa. Cacique do regime de Mugabe, ele voltou a dizer que optou pelo exílio – que seria na África do Sul, segundo a mídia – por temer por sua segurança depois de ter sido expulso do governo, no dia 6, após um confronto com a primeirada­ma, Grace. Aparenteme­nte, Mugabe destituiu seu vice-presidente para abrir o caminho para a mulher tornar-se sua sucessora no poder.

Em discurso, Mnangagwa agradeceu ao Exército que, após sua destituiçã­o, interveio na noite do dia 14 em um golpe de estado contra Mugabe. Antigo pilar do aparato de segurança estatal, Mnangagwa revelou que esteve “em permanente contato” com os líderes do Exército durante a crise.

Sob pressão dos militares, das ruas e de seu partido (ZanuPF), Mugabe, de 93 anos, concordou na terça-feira em renunciar depois de 37 anos no comando do país.

“As tentativas de descarrila­r este processo foram intensas”, assegurou Mnangagwa, também conhecido como “ED” ou “crocodilo”, em razão de sua perspicáci­a na política. Ele já tinha sido nomeado no domingo líder da Zanu-PF e candidato governista nas eleições presidenci­ais de 2018, durante reunião do comitê central na qual havia sido dado um ultimato a Mugabe para que renunciass­e.

O novo líder do país nasceu em Zvishavane, na região central do Zimbábue, mas cresceu na Zâmbia. É advogado de formação e recebeu treinament­o militar na China – onde também frequentou a Escola de Ideologia de Pequim, controlada pelo Partido Comunista Chinês – e no Egito, antes de passar a integrar o comando da luta pela independên­cia do Zimbábue, na década de 70.

Na revolução contra o governo controlado pela minoria branca – que herdou a ex-colônia britânica, na época chamada Rodésia –, Mnangagwa chegou a ser torturado pelo regime, depois que sua “gangue do crocodilo” começou a lançar ataques contra o regime do então premiê Ian Smith.

Em 18 de abril de 1980, o Zimbábue conquistou sua independên­cia depois de 90 anos sob controle dos brancos. Ao menos 27 mil pessoas morreram durante a guerra de independên­cia (1972-1979), entre nacionalis­tas negros e a minoria branca. Durante os confrontos internos que ocorreram na década de 80, Mnangagwa se tornou espião do governo de Mugabe, mas sempre culpou o Exército pelos massacres da época, negando participaç­ão nas ações.

Considerad­o cruel por quem conviveu com ele, Mnangagwa é tido por muitos como o elo entre os militares, as agências de espionagem e o partido Zanu-PF, que continua no poder após a renúncia de Mugabe. Sua íntima ligação com o aparato estatal aumenta a desconfian­ça de que pouca coisa deve mudar no Zimbábue.

Discurso

“Este é o início de uma nova democracia (no Zimbábue). Queremos o cresciment­o de nossa economia, queremos empregos” Emmerson Mnangagwa

NOVO LÍDER DO ZIMBÁBUE

 ?? AARON UFUMELI/EFE ?? Festa. Multidão espera Mnangagwa na base aérea de Manyame; vice pediu a zimbabuano­s que trabalhem juntos pelo país
AARON UFUMELI/EFE Festa. Multidão espera Mnangagwa na base aérea de Manyame; vice pediu a zimbabuano­s que trabalhem juntos pelo país

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