O Estado de S. Paulo

‘FALAR É O MELHOR NEGÓCIO. PRA ALERTAR A SOCIEDADE’

- /SOFIA PATSCH

Luana Piovani estreia hoje o musical Em Busca de Noel, no Auditório do Ibirapuera – parte do projeto Mundo de Noel, da DC Set, que pretende transforma­r SP na capital brasileira do Natal. Na peça, a atriz dá vida a Ana, mãe de uma criança que não acredita no Papai Noel. Natal e musicais à parte, a atriz também falou, em conversa exclusiva com a coluna, de um tema bem mais polêmico: o assédio. “Já fui assediada algumas vezes”, recordou a atriz. E disso tirou uma conclusão: “Falar (do assédio) é o melhor negócio. Pra alertar a sociedade”.

Hoje você estreia a peça Em Busca de Noel. O que significa o Natal para você?

Eu amo o Natal, sempre gostei, mas nunca tive a tradição de fazer árvore nem nada disso. Como minha família é muito festeira, apesar de sermos poucos, sempre recebíamos pessoas próximas, às vezes de outra cidade e que estão em São Paulo longe da família. Meu irmão fazia a playlist, meu pai se encarregav­a dos petiscos e virava uma festa. Hoje, com meus filhos, tudo mudou. Faço uma árvore grande.

Como surgiu o convite para estrelar um espetáculo de Natal? Por um grande amigo, o Lalo Amaral. Ele me ligou falando: “Cara, tô produzindo um espetáculo de Natal e só pensei em você para fazer o papel da mãe da criança. Conheço seu cuidado com o público infantil”.

Enquanto você se prepara para o espetáculo, correm notícias, nos meios artísticos, sobre escândalos de assédio sexual envolvendo nomes famosos de Hollywood. Isso interfere no seu trabalho? Como você convive com o assunto?

Acho que as pessoas entenderam que falar é o melhor negócio. Tanto para si, porque não fica com aquele troço ruim por dentro, quanto para alertar a sociedade de que o problema existe. O que não aceito é, depois de 20 anos do acontecido, o fulano vir falar, como no caso que atingiu o Kevin Spacey. O cara foi assediado aos 14 anos e só resolveu falar agora! Acho sacanagem ficar vilanizand­o a pessoa.

Mas depois de ele ter falado vieram à tona dezenas de denúncias contra o ator, inclusive de gente de House of Cards.

Gosto de fazer um paralelo, e foi assim que me expressei quando aconteceu a história do (ator) José Mayer. Claro que se ele fez, foi condenável. Mas o que ocorreu foi que ele virou o grande vilão, ficou todo mundo postando foto com a camiseta “Mexeu com uma mexeu com todas”, etc. Qual a sensação que dá? Fica parecendo que a única pessoa que assediou alguém na vida foi o Zé Mayer. E isso não é verdade.

Na maioria das vezes o assediador é alguém poderoso, e se a vítima não cede ele tenta destruir sua carreira. Já aconteceu algo parecido com você?

Não, porque eu sempre entendi que quem manda na minha carreira sou eu. Nunca dependi de ninguém. De fato, sofri alguns assédios em minha vida. Mas diria que todos foram tranquilos, se cabe a palavra, e no começo da minha carreira. Nunca me senti acuada, eu me cuidava e dava logo um passa fora.

Alguma vez isso envolveu colegas de trabalho? Aconteceu uma vez. Acho que eu tinha uns 21 anos, estava em uma sala com outras pessoas. O tal cara bateu na minha perna, me chamou pra sentar no colo dele. Eu levantei, fui na direção dele, mas passei reto e me sentei no braço de uma poltroninh­a que estava do lado. Aí olhei pra cara dele e ri. Como se lhe dissesse: “Olha com o olho e lambe com a testa”.

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IARA MORSELLI/ ESTADÃO

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