O Estado de S. Paulo

STF vota por limitar foro e Câmara ensaia contra-ataque

Justiça. Dos 11 ministros da Corte, 7 votam por restringir direito a julgamento especial apenas em crime cometido durante mandato; Dias Toffoli pede vista e conclusão é adiada

- BRASÍLIA / BEATRIZ BULLA, BRENO PIRES, RAFAEL MORAES MOURA e DAIENE CARDOSO

Sete dos 11 ministros do STF votaram por restringir o foro privilegia­do de deputados federais e senadores. Pedido de vista, do ministro Dias Toffoli, suspendeu o julgamento. Em reação, a Câmara vai acelerar tramitação de PEC para limitar foro do Judiciário e do MP.

A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou ontem por limitar o alcance do foro privilegia­do de deputados federais e senadores. O julgamento foi suspenso por um pedido de vista de Dias Toffoli, mas, pelo entendimen­to de 7 dos 11 ministros, somente deverão tramitar na Corte processos de crimes cometidos no exercício do mandato e relacionad­os ao cargo. Em reação, a Câmara vai acelerar a tramitação de uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) para restringir também o foro de integrante­s do Judiciário e do Ministério Público.

O Estado antecipou na edição de terça-feira que os ministros votariam por restringir o foro privilegia­do. Atualmente, após a diplomação, deputados federais e senadores têm seus processos penais remetidos para o Supremo em razão do chamado foro por prerrogati­va de função – instrument­o previsto pela Constituiç­ão para proteger o exercício da função pública.

Hoje, há 528 procedimen­tos penais na Corte, entre inquéritos e ações penais, de acordo com o ministro-relator, Luís Roberto Barroso – 90% deles podem descer para um juiz de primeira instância. No entanto, até que o julgamento seja encerrado – ainda não há previsão para sua conclusão –, os procedimen­tos vão continuar no STF.

A sessão de ontem foi a terceira destinada a discutir o tema, retomada com o voto de Alexandre de Moraes, que havia pedido vista em junho, quando o plenário já tinha quatro votos a favor da restrição: o de Barroso, o da presidente, Cármen Lúcia, e os de Marco Aurélio Mello e Rosa Weber. A discussão não estava prevista na pauta deste mês e foi incluída posteriorm­ente pela presidente depois de se calcular que haveria maioria pró-Barroso. Ministros avaliam que o julgamento é uma forma de o STF marcar posição frente ao Congresso.

Ontem, Moraes apresentou voto parcialmen­te divergente e defendeu a limitação da prerrogati­va a crimes cometidos no mandato, independen­temente da relação com o cargo – como um homicídio comum, por exemplo. “O foro é uma prerrogati­va do Congresso, não um privilégio. Aquele que praticou o crime antes (de se tornar parlamenta­r) não sabia se seria parlamenta­r ou não. Ele praticou um crime antes da diplomação, antes de se tornar parlamenta­r. Não há, a meu ver, relação com a finalidade protetiva do mandato”, explicou Moraes.

Os ministros Edson Fachin e Luiz Fux apresentar­am votos breves para endossar a tese de Barroso e formar rapidament­e maioria. No voto, Fachin rebateu o argumento de que o julgamento no Tribunal visava a diminuir o risco de interferên­cias políticas na Justiça de primeiro grau. “A garantia de imparciali­dade é de todos os membros do Judiciário e Ministério Público, não se podendo admitir que se haja julgamento­s mais ou menos independen­tes ou mais ou menos eficientes”, afirmou.

O decano Celso de Mello antecipou seu voto para acompanhar a corrente majoritári­a. A postura é considerad­a um gesto forte no STF. “Os parlamenta­res devem estar submetidos às mesmas leis dos demais cidadãos da República no que concerne à sua submissão à jurisdição ordinária dos magistrado­s de primeiro grau”, afirmou.

O pedido de vista de Toffoli já era aguardado pelos demais ministros, conforme antecipou o Estado. Em sua manifestaç­ão, ele usou dados de seu gabinete para defender o STF e rebater críticas de morosidade e impunidade. “Não há que se falar em impunidade ou incapacida­de de julgamento de ações, com as devidas vênias. Dizer que essa Corte não investiga e não julga é uma tremenda mentira.”

Além de Toffoli, ainda faltam votar os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowsk­i.

Reação. Em resposta ao “ativismo” do STF, um dia depois de a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Câmara aprovar a admissibil­idade da PEC de restrição do foro, deputados defenderam sua votação já no primeiro semestre de 2018.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que vai deliberar na próxima semana sobre a criação da comissão especial da PEC. Relator da proposta na CCJ, o líder do DEM, Efraim Filho (PB), disse que a expectativ­a é instalar a comissão ainda neste ano. “Acho que a legitimida­de constituci­onal de se definir isso com efeitos gerais é do Congresso”, disse o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).

“Os parlamenta­res devem estar submetidos às mesmas leis dos demais cidadãos da República no que concerne à sua submissão à jurisdição ordinária dos magistrado­s de primeiro grau.” Celso de Mello DECANO DO STF

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MYKE SENA/TRIPÉ FOTOGRAFIA Ministro. Dias Toffoli pediu vista quando o plenário já tinha maioria pela restrição

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