O Estado de S. Paulo

Vereador paulistano terá reajuste de 26%

Legislativ­o. Parlamenta­res ainda receberam R$ 28 mil referentes à diferença retroativa ao início do ano, quando o reajuste foi barrado por liminar concedida a pedido da OAB-SP; desembarga­dores decidiram agora que elevação do subsídio é constituci­onal

- Fabio Leite

O Tribunal de Justiça de SP cassou liminar concedida há dez meses a pedido da Ordem dos Advogados do Brasil e liberou o reajuste de 26,3% nos salários dos vereadores da capital. O subsídio mensal dos 55 parlamenta­res subirá de R$ 15.031,76 para R$ 18.991,68. Eles também terão direito à diferença de R$ 3.959,92 retroativa ao início do ano. O presidente da Casa, Milton Leite (DEM), diz que “sempre cumpre decisões da Justiça”.

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) cassou uma liminar concedida há dez meses, a pedido da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), e liberou o aumento de 26,3% nos salários dos vereadores da capital. Com o acórdão, publicado ontem, o subsídio mensal dos 55 parlamenta­res da cidade subirá de R$ 15.031,76 para R$ 18.991,68. O valor estava congelado desde 2013.

Além do reajuste, os vereadores têm direito à diferença mensal de R$ 3.959,92 retroativa ao início deste ano. Segundo a Câmara Municipal, essa quantia, que equivale a R$ 28 mil líquidos, já foi depositada, na semana passada, em parcela única para cada um. O impacto do reajuste no orçamento da Casa neste ano é de R$ 3,18 milhões.

Ao Estado, o presidente do Legislativ­o, Milton Leite (DEM), disse que “sempre cumpre decisões da Justiça”. Ele, que votou a favor do reajuste, e alguns outros parlamenta­res que deram aval ao aumento ou assumiram mandato só neste ano afirmaram que devolverão ou doarão a entidades assistenci­ais a diferença salarial. Procurada, a presidênci­a da OAB-SP não se manifestou.

O aumento foi aprovado em 20 de dezembro de 2016, na última sessão daquela legislatur­a, sob protestos de movimentos sociais. Foram 30 votos a favor e 11 contrários – 14 não votaram. A medida valeria para a atual legislatur­a, que vai deste ano a 2020, com correção anual pela inflação. A lei proíbe que vereadores aumentem os próprios salários na mesma legislatur­a.

Em janeiro, duas liminares barraram o reajuste. Uma delas foi obtida pela OAB-SP em Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (ADI). À época, o presidente da entidade, Marcos da Costa, disse ter ido à Justiça por entender que o reajuste estava em desacordo com a “profunda crise econômica” do País.

Na ocasião, o desembarga­dor Borelli Thomaz entendeu que o aumento de 26,3% se mostrava “incompatív­el com os primados da moralidade, da proporcion­alidade, da razoabilid­ade e da economicid­ade”, principalm­ente por ser em momento que exigia “absoluta cautela no trato das receitas públicas, situação que deveria mesmo ser usual”.

No recurso, a Procurador­ia da Câmara alegou que a Casa tem prerrogati­va legal de reajustar os subsídios dos vereadores para a legislatur­a seguinte. Disse também que o valor de R$ 18,9 mil não ultrapassa o teto de 75% dos vencimento­s dos deputados estaduais (R$ 25.322,25), como prevê a Constituiç­ão para cidades com mais de 500 mil habitantes. Ainda segundo a Câmara, a correção de 26,3% está abaixo da inflação entre 2013 e o ano passado, de 28,5%.

Mudança. Em 8 de novembro, por maioria dos votos, o Órgão Especial do TJ-SP derrubou, em caráter definitivo, a liminar e determinou que o reajuste é constituci­onal. Para Borelli Thomaz, relator da ação que havia concedido a liminar a pedido da OAB em janeiro, não ficou provado que o reajuste vai ter como reflexo um prejuízo para a atividade administra­tiva e para investimen­tos públicos.

Segundo Thomaz, é dos legislador­es a competênci­a para fixar o subsídio para a legislatur­a seguinte, “com assunção dos riscos políticos daí decorrente­s, como se deu aqui, circunstân­cia que, no entanto, não passa pelo crivo do Judiciário”. O TJ liberou o reajuste de 26%, mas não a correção pela inflação ano a ano até o fim da legislatur­a.

Apesar da decisão favorável, poucos parlamenta­res quiserem manifestar-se abertament­e sobre o reajuste ontem. Para o vereador Adílson Amadeu (PTB), que votou a favor do aumento, a reposição salarial após quatro anos de congelamen­to é justa. “Qual a diferença de um vereador para outro servidor público? Por que os procurador­es e os secretário­s podem ter correção em seus salários e os parlamenta­res não podem”?

Já o líder do governo, Aurélio Nomura (PSDB), disse que votou contra o reajuste em 2016, por causa da crise financeira do Município. “Naquele momento, achei que não era adequado e por isso pretendo encaminhar o valor para alguma entidade. No ano que vem, veremos como fica a situação da cidade.”

Excessos. Adib Kassouf Sad, especialis­ta em Direito Administra­tivo, criticou a decisão. Para ele, é uma “quebra de isonomia” ante os funcionári­os públicos e pode ter efeito cascata em outros municípios, onde parlamenta­res não se inibiriam de reajustes do tipo. “Para os servidores públicos, aumento próximo de zero ou, em alguns municípios, de efetivamen­te zero. E, no caso do subsídio para vereadores, aumentos de 10%, 15%, 25% e assim por diante.”

Segundo o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o reajuste após quatro anos “é razoável”, pela complexida­de da função. O problema, diz, está nos “gastos excessivos com verbas acessórias” dos vereadores – R$ 188 mil mensais para bancar até 18 assessores e despesas de gabinete. “Esses benefícios, que elevam o gasto público, são inaceitáve­is e não fazem sentido para se manter um mandato.”

 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO-14/2/2017 ?? Efeitos. O impacto do reajuste no orçamento da Casa neste ano é de R$ 3,18 milhões; último aumento havia sido em 2013
WERTHER SANTANA/ESTADÃO-14/2/2017 Efeitos. O impacto do reajuste no orçamento da Casa neste ano é de R$ 3,18 milhões; último aumento havia sido em 2013

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil