Submarino sofreu explosão, admite Marinha argentina
Ruído foi detectado há nove dias por aeronaves americanas
Parentes dos 44 tripulantes do submarino ARA San Juan receberam na Base Naval de Mar del Plata a notícia de que o “ruído violento e repentino” detectado no dia 15 por aeronaves americanas era consistente com uma explosão, informa o enviado especial Luiz Raatz. Parentes dos militares disseram ter perdido esperança de encontrá-los com vida.
Quase 100 parentes dos 44 tripulantes do submarino ARA San Juan receberam ontem na Base Naval de Mar del Plata a notícia que mais temiam. O ruído detectado no dia 15 por aeronaves americanas era consistente com uma explosão. Imediatamente, a dor tomou conta do alojamento que abrigava as famílias dos militares. Muitos disseram ter perdido a esperança.
O símbolo do drama vivido pelas famílias dos marinheiros foi uma garota identificada pela imprensa argentina apenas pela blusa cinza que vestia. Após receber a notícia, ela caiu de joelhos, desesperada, e chorou. A imagem rapidamente se espalhou pelo mundo.
Em Buenos Aires, o porta-voz da Marinha fechou a cara antes de fazer o anúncio. Na noite de quarta-feira, Enrique Balbi havia informado sobre uma “anomalia hidroacústica” detectada na semana passada, no local do desaparecimento do San Juan. “No momento, não posso confirmar se houve ou não uma explosão. A Marinha está investigando.”
Revolta. Ontem, Balbi insistiu no eufemismo. Disse que se tratava de um “evento curto, violento e não nuclear”. As firulas do porta-voz da Marinha argentina eram uma tentativa de suavizar a dor de um país. Uma explosão a 430 km do litoral, na altura da Península Valdés, provavelmente destruiu o submarino ARA San Juan e matou todos os seus 44 tripulantes.
Itatí Leguizamón, mulher de Germán Oscar Suárez, operador de radar do San Juan, era uma das mais revoltadas. “Eles são perversos e nos manipularam. Nunca disseram a palavra ‘mortos’. Mas o que podemos entender?”, gritou Itatí assim que soube da confirmação da explosão.
Explosão. Enquanto os parentes se consolavam em Mar del Plata, a Marinha argentina tentava explicar em Buenos Aires como chegou à conclusão de que houve uma explosão no local do desaparecimento do San Juan.
O embaixador da Argentina na Áustria, Rafael Grossi, é a peça-chave que ajudou a elucidar o mistério. Na semana passada, após o desaparecimento do submarino, ele foi à sede da Organização do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBTO, na sigla em inglês), em Viena, e pediu ajuda para descobrir o que havia acontecido no Atlântico Sul naquela manhã do dia 15.
A CTBTO verifica se algum país está violando o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares. Para monitorar as detonações, a organização tem sensores espalhados pelo mundo. Após o lento trabalho de processar registros de estações hidroacústicas, a CTBTO concluiu que o ruído detectado no Atlântico Sul, no dia 15, era “compatível” com o de uma explosão.
Ontem, o vento forte, o frio de 14ºC e o céu nublado em Mar del Plata deixaram o dia ainda mais lúgubre na base naval. Após a divulgação de imagens de satélite mostrando a explosão em um local isolado do Atlântico Sul, alguns parentes dos tripulantes disseram ainda ter fé em um milagre. A maioria, porém, já perdeu as esperanças.