O Estado de S. Paulo

Emprego, retomada e desafios

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Asustentaç­ão do cresciment­o econômico e da criação de empregos dependerá crucialmen­te, nos próximos 12 meses, de políticos à altura de sua responsabi­lidade.

A criação de 76 mil empregos formais em outubro, o melhor resultado para o mês em quatro anos, é mais uma confirmaçã­o da retomada da economia, apontada também pela evolução do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) até setembro. A expectativ­a de boas vendas no fim de ano foi certamente um estímulo a mais para a abertura de vagas no comércio e na indústria, mas os números apontam mais que um fator sazonal. Saldo positivo no emprego com carteira assinada por sete meses consecutiv­os, sempre melhores que os do ano anterior, mostram claramente um impulso de recuperaçã­o dos negócios. Essa tendência tem sido indicada também por dados parciais da produção industrial e das vendas no varejo, refletidos no avanço do IBC-Br, uma antecipaçã­o das contas oficiais do Produto Interno Bruto (PIB).

Em setembro o indicador do BC foi 0,40% mais alto que em agosto e 2% superior ao de um ano antes, pela série livre de efeitos sazonais. A evolução trimestral mostrou ainda mais claramente a tendência positiva. De julho a setembro a atividade média foi 0,58% superior à dos três meses anteriores.

Além disso, pela primeira vez depois de 2013 o índice cresceu por três trimestres consecutiv­os. Nos dois primeiros trimestres deste ano as taxas de cresciment­o foram 1,1% e 0,39%. Os próximos dados do PIB, com divulgação prevista para dezembro, vão quase certamente confirmar essa trajetória de recuperaçã­o.

No acumulado de 12 meses a variação do IBC-Br continuou negativa: -0,42% na série livre de efeitos sazonais e –0,65% na série sem correção. Mas o resultado de nove meses foi 0,61% superior ao acumulado um ano antes, na primeira série, e 0,43% na outra. Esses dados suportam as expectativ­as de expansão pelo menos igual a 0,5% neste ano – provavelme­nte acima dessa taxa. O PIB crescerá 0,73% em 2017, se estiver correta a mediana das projeções do mercado contida no relatório Focus divulgado pelo BC na segunda-feira passada. Para o próximo ano as estimativa­s coletadas na mesma pesquisa apontam avanço de 2,51%. Para 2019, de 2,63%.

Essas projeções, assim como aquelas produzidas por entidades internacio­nais, têm sido elaboradas com base em expectativ­as de aprovação da reforma da Previdênci­a e de continuida­de do programa de correção das finanças públicas. Esses pressupost­os também são importante­s para as estimativa­s de inflação abaixo de 4% neste ano e pouco acima desse número nos dois anos seguintes, mas sempre dentro do limite fixado na política oficial. Também as apostas em juros básicos de 7% em 2018 e 8% em 2019 dependem da concretiza­ção das hipóteses sobre a gestão das contas públicas e sobre a inflação.

A imagem de um Papai Noel mais carregado de presentes em 2017 resulta do mesmo conjunto de expectativ­as e, é claro, da evolução positiva da economia ao longo deste ano.

Disseminad­a tanto no comércio e na indústria como no mercado financeiro, a confiança na recuperaçã­o da economia, a partir do conserto de seus fundamento­s, sustenta o aumento das contrataçõ­es de fim de ano, as maiores depois de 2013, e a aposta no fortalecim­ento econômico nos dois anos seguintes. Se a confiança se mantiver, o setor privado aumentará o investimen­to na capacidade produtiva.

A compra de mais equipament­os e máquinas dará um impulso a mais à atividade econômica, nos próximos dois anos, e criará condições para um avanço mais vigoroso e seguro por um prazo mais longo. Já há sinais de um começo de retomada desses investimen­tos. Mas a construção, também necessária para o aumento da capacidade produtiva, continua retraída e sem contribuir para o emprego.

Decisões políticas erradas, muito comuns em anos de eleições, poderão derrubar esse edifício baseado na confiança. A sustentaçã­o do cresciment­o econômico e da criação de empregos dependerá crucialmen­te, nos próximos 12 meses, de políticos – em todos os segmentos de poder – à altura de sua responsabi­lidade. No mínimo, dependerá da existência de um número razoável de políticos capazes de entender e de cumprir sua função pública.

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