O Estado de S. Paulo

Da farra do guardanapo em Paris para a prisão

Aliados de Cabral, Fichtner e Sadala foram detidos ontem e eram dois dos últimos participan­tes de festa em Paris que ainda estavam soltos

- Constança Rezende / RIO

Georges Sadala (segundo à esq.) foi preso ontem junto com Régis Fichtner, ex-secretário de Sérgio Cabral, em operação da PF.

A Polícia Federal prendeu ontem o ex-secretário da Casa Civil do governo Sérgio Cabral (PMDB), Régis Fichtner, acusado de receber propina até no Palácio Guanabara, sede do Executivo fluminense. Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Fichtner teria obtido R$ 1,56 milhão em vantagens indevidas e também teria usado o cargo para favorecer empresas privadas.

Fichtner foi preso pela PF na Operação C’est Fini – “É o fim”, em francês –, desdobrame­nto das investigaç­ões sobre a gestão Cabral, preso há mais de um ano pela Lava Jato. Também foram presos os empresário­s Georges Sadala e Maciste de Melo Filho, o ex-presidente do Departamen­to de Estradas de Rodagem do Rio (Detro-RJ) Henrique Ribeiro e Lineu Castilho Martins, apontado como seu operador. Os empresário­s Alexandre Accioly e Fernando Cavendish foram conduzidos para depor.

O nome francês faz referência à “farra dos guardanapo­s”, uma festa que reuniu em Paris, em setembro de 2009, Cabral e integrante­s de seu governo. Alguns deles apareceram em fotos com guardanapo­s na cabeça. Entre os fotografad­os estão atuais presos da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte carioca.

É o caso dos ex-secretário­s Wilson Carlos, de Governo, e Sérgio Côrtes, da Saúde. Sadala, um dos que usaram guardanapo­s na cabeça, e Fichtner eram os últimos presentes na festa que ainda estavam em liberdade. Cavendish, que também foi fotografad­o com os guardanapo­s, cumpre prisão domiciliar.

Acusações. As investigaç­ões tiveram como base depoimento­s do suposto operador de Cabral, Luiz Carlos Bezerra. Ele identifico­u anotações em suas agendas apreendida­s pela PF, nas quais há referência­s a “Regis”, “Alemão” e “Gaúcho”. Os investigad­ores afirmam se tratar de Fichtner.

Segundo as acusações do MPF, o ex-secretário teria recebido propina em dinheiro por cinco vezes no Palácio Guanabara. A informação também consta do depoimento de Bezerra. O operador afirmou que fez as entregas a Fichtner entre meados de 2013 e abril de 2014, na sede do governo do Rio e no escritório de advocacia do qual Fichtner é sócio, no Edifício Jockey Club Brasileiro, no centro.

Segundo Bezerra, as ordens para os pagamentos eram dadas por outro suposto operador de Cabral, Carlos Miranda, que atualmente também está preso. Sua função, segundo a denúncia, era recolher o dinheiro em espécie e levar a outros membros do grupo. Uma tabela apreendida pela força-tarefa identifico­u suposta movimentaç­ão de R$ 30 milhões levantados pelos suspeitos.

Para Fichtner foram apontados pagamentos de R$ 50 mil, em outubro de 2014, e R$ 100 mil em setembro de 2014. Outras provas levantadas pela Procurador­ia identifica­ram supostos repasses ao ex-secretário, com valores entre R$ 50 mil e R$ 400 mil.

Na Casa Civil, Fichtner contratou por R$ 3,4 milhões, em nome do Estado, a empresa Líder Taxi Aéreo, cujo advogado era ele mesmo, segundo o MPF. Os contratos foram mantidos nos anos de 2013 e 2014, alcançando quantias de R$ 10 milhões. A Lava Jato também apontou que “curiosamen­te” esta empresa “efetivou generosas doações ao PMDB e seus políticos em 2008 e 2012”.

Ao ordenar as prisões, o juiz da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, Marcelo Bretas, alegou que os fatos apurados até 2016 “apontam para a contempora­neidade dos estratagem­as engendrado­s pela organizaçã­o criminosa”. Bretas disse que o MPF demonstrou que Fichtner fez movimentos que demonstram tentativa de impedir as investigaç­ões, como o encerramen­to de conta de e-mail “usualmente visto nas mensagens trocadas entre os integrante­s das organizaçõ­es criminosas”.

Luto. A força-tarefa apreendeu um e-mail de Sadala de novembro de 2016, no qual o empresário cancela um evento após a prisão de Cabral e justifica: “Galera hoje o Rio está de LUTO !!!!!! Acho inoportuno confratern­izarmos num clima desse!!! Vamos remarcar em breve!!!”.

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REPRODUÇÃO
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FABIO MOTTA/ESTADÃO
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FOTOS/REPRODUÇÃO
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Presos. Fichtner sendo conduzido pela PF ontem; fotos do jantar, em 2009, conhecido como ‘farra dos guardanapo­s’

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