O Estado de S. Paulo

Bolsonaro assina filiação ‘pré-datada’ ao Patriota

Potencial candidato do Patriota-PEN à Presidênci­a, deputado firma ficha de admissão à legenda com validade a partir de março de 2018

- Gilberto Amendola

Mesmo apresentad­o como o candidato do Patriota-PEN à Presidênci­a da República desde julho, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) continua sem ter o vínculo oficial com a legenda. A única ligação entre as duas partes é uma ficha “pré-datada”, com a filiação marcada para o dia 10 de março de 2018, assinada por Bolsonaro. Dentro da legenda, um grupo de filiados está insatisfei­to com a postura do presidenci­ável e já fala em “saída em bloco da legenda” ou em até “apresentaç­ão de outro nome para concorrer às eleições”.

A não oficializa­ção de Bolsonaro como membro efetivo do partido – hoje ele é presidente de honra – tem causado um desconfort­o interno na legenda. Os insatisfei­tos pressionam Bolsonaro para que ele dê uma sinalizaçã­o definitiva de que não deixaria o Patriota-PEN “na mão” às vésperas de uma campanha eleitoral, indo para um partido com mais tempo de TV, por exemplo.

Essa pressão cresceu ainda mais quando o Conselho Nacional do PEN (o nome Patriota ainda não foi oficializa­do pelo Tribunal Superior Eleitoral) decidiu, por unanimidad­e, que o partido precisaria apresentar o seu candidato à Presidênci­a no próximo dia 11 de dezembro. O deputado Walney Rocha (RJ), que também é presidente nacional do órgão partidário, afirmou que “ou Bolsonaro entra de fato no partido até a data definida pelo conselho ou não será o candidato do Patriota”. Segundo ele, já há outros nomes cogitados.

“Não é admissível ele assinar uma ficha com uma data futura. Ele está, mais uma vez, querendo ser mais esperto do que todos nós”, afirmou Rocha.

A filiação pré-datada foi a resposta do grupo de Bolsonaro e do presidente do Patriota, Adilson Barroso, para a decisão do conselho. “Ele é um homem de palavra. Ele é do nosso partido. A pré-filiação atende ao conselho e também evita que ele tenha problemas no atual partido. Se ele muda de legenda agora pode até perder o mandato de deputado. A Lei Eleitoral é muito dura”, disse Barroso. A janela partidária para troca de legendas sem perda de mandato vai de março a abril de 2018.

O presidente do PEN afirmou também que o problema de Rocha com Bolsonaro passa por uma disputa local – já que Rocha tem como base eleitoral o Rio e está vendo a família Bolsonaro assumir o comando dos postos locais. “Eu adoro o Rocha, mas ele precisa aprender a dividir para que a gente possa crescer”, disse Barroso.

Caso a entrada definitiva de Bolsonaro continue se arrastando, Rocha admitiu a possibilid­ade de uma saída em bloco do partido. “O Adilson Barroso está sendo enganado. O Bolsonaro está tomando todo o partido e não dando nenhuma garantia. Quando a eleição se aproximar, ele vai acabar deixando o Barroso e o partido na mão”, disse. Rocha salientou que não tem nada contra Bolsonaro e que, até mesmo, “foi favorável à entrada dele no partido”.

Outro deputado que está insatisfei­to e pode deixar a legenda é Junior Marreca (MA). Com a mudança no estatuto do partido feita para se adequar ao discurso de Bolsonaro, políticos da legenda seriam proibidos de se coligar com partidos de esquerda. No Maranhão, Marreca é aliado do governador Flávio Dino (PCdoB). Rocha e Marreca chegaram a entrar com impugnação contra o novo estatuto do partido no TSE, mas o pedido foi negado.

Resposta. Nomes próximos de Bolsonaro afirmaram que o deputado só não assinou uma pré-filiação antes porque estaria esperando o cumpriment­o de um acordo: a substituiç­ão de algumas lideranças nos Estados. As principais peças movidas no tabuleiro do antigo PEN (futuro Patriota) estão no Rio, Distrito Federal, Minas, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Sul. O motivo dessas mudanças seria o de transforma­r o antigo PEN no Patriota – ou seja, um partido verdadeira­mente de direita.

Interlocut­ores do deputado também admitiram que a pré-filiação teria sido uma resposta de Bolsonaro ao seu “futuro expartido”, o PSC. O deputado não teria ficado “feliz” com o fato de o PSC ter lançado o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, como pré-candidato à Presidênci­a da República.

“O Bolsonaro está tomando todo o partido e não dando nenhuma garantia. Quando a eleição se aproximar, ele vai acabar deixando o Barroso e o partido na mão.” Walney Rocha DEPUTADO FEDERAL

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RÚBIO MARRA/FUTURA PRESS-20/10/2017 Visita. Jair Bolsonaro é recebido por apoiadores na sexta-feira em Uberaba, em Minas

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