O Estado de S. Paulo

Zimbábue

‘Crocodilo’ Mnangagwa assume a presidênci­a do país.

- /AP, AFP, REUTERS e WP

A era de tirania no Zimbábue pode estar longe do fim. Emmerson Mnangagwa, que assume hoje a presidênci­a do país, é um dos mais sanguinári­os aliados do ex-ditador Robert Mugabe, apeado do poder por um golpe militar no dia 15. Seu nome de guerra é “Crocodilo”. “Um crocodilo nunca sai da água para procurar comida”, disse ele sobre si mesmo recentemen­te. “Em vez disso, espera que suas presas se aproximem e dá o bote no momento apropriado.”

De fato, Mnangagwa esperou para dar o bote. Ele cultuou e apoiou Mugabe. Em troca, recebeu cargos de prestígio e chegou à vice-presidênci­a. Quando Mugabe deu sinais de que colocaria sua mulher, Grace, como sucessora, Mnangagwa saiu da água. O ataque, em princípio, parecia precipitad­o. Ele foi destituído do cargo e exilou-se.

Dias depois, o Exército zimbabuano interveio, derrubou Mugabe e Mnangagwa assumiu. O apoio tem motivo: em seus anos de ministro e vice-presidente, ele garantiu bons contratos comerciais para os militares.

A “nova democracia” do Zimbábue, anunciada por Mnangagwa, com “paz e prosperida­de”, promete ser apenas uma repaginaçã­o da versão antiga – talvez ainda mais brutal. Sua temível reputação vem da época da guerra civil, um confronto entre seu partido, o Zanu-PF, e o rival Zapu, que ganhou contornos de luta étnica.

Como ministro da Segurança Nacional, Mnangagwa orquestrou uma limpeza da oposição no país. Cerca de 20 mil pessoas morreram, quase todas da minoria étnica ndebele. A operação ficou conhecida como Gukurahund­i, ou “a chuva precoce que lava a palha antes da primavera”.

A repressão foi brutal. Os militares zimbabuano­s, treinados na Coreia do Norte, obrigavam crianças a matarem seus pais, abriam o ventre de mulheres grávidas e obrigavam parentes a amassar os fetos em um pilão. Os homens eram obrigados a cavar os próprios túmulos.

Em um relatório divulgado em 2001, o Departamen­to de Estado americano afirmava que Mnangagwa era “amplamente temido e desprezado em todo o país” e “poderia ser um líder mais repressivo” do que o próprio Mugabe.

Rivalidade.

“Ele é um homem muito cruel, muito cruel”, afirmou à BBC Blessing Chebundo, candidato da oposição que derrotou Mnangagwa na campanha parlamenta­r de 2000. Em uma campanha violenta, Chebundo escapou da morte após ser sequestrad­o por jovens do Zanu-PF.

Os matadores jogaram gasolina no rival, mas não conseguira­m acender o fósforo. “Você acha que Mugabe é ruim, mas já parou para pensar que quem virá depois dele pode ser ainda pior?”, disse Chebundo.

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