O Estado de S. Paulo

Método de análise levou à demora na revelação da explosão

- Roberto Godoy

As estações de vigilância que captaram a explosão que seria a bordo do submarino argentino S-42 San Juan, estão a mais de 7 mil km de distância uma da outra e a 11 mil km do ponto onde o navio deu sinal de vida pela última vez, no dia 15. As duas centrais, uma na ilha britânica de Ascensão, no médio Atlântico, em uma linha que pode ser projetada desde Pernambuco, e outra no arquipélag­o francês de Crozet, no sul da África, ao largo de Madagáscar, integram uma rede de 11 unidades que monitoram a ocorrência de ensaios atômicos em escala planetária. A Organizaçã­o do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO, na sigla em inglês) é chefiada pelo secretário-geral Lassina Zerbo, de Burkina Fasso, e atua em 70 países.

A demora no resgate da informação, que confirma uma outra, anterior e na mesma linha, divulgada pela Marinha argentina há uma semana, era atribuída ontem aos métodos de análise dos dados da CTBTO, por dois ex-integrante­s do programa de pesquisa nuclear do Brasil. As prioridade­s da entidade e seus recursos mais avançados estariam focados na Ásia e no Oriente Médio, especulou um dos especialis­tas. O Atlântico Sul é considerad­o uma zona livre de armas atômicas.

O mapeamento hidroacúst­ico da detonação, e o absoluto silêncio a bordo do San Juan ao longo de dez dias, apontam para um cenário dramático. Submarinis­tas do Brasil lembraram ontem ao Estado que nem mesmo o recurso de sinalizaçã­o mais básico foi ouvido, o de manter batidas ritmadas no casco, contando com a capacidade condutora da água para indicar a posição do naufrágio.

O San Juan estava a 400 km da costa da Argentina, no turbulento Golfo de San Jorge onde há “degraus” com profundida­des de até 800 m, quando aparenteme­nte sofreu um curto circuito no conjunto 3, formado por 240 de suas 960 baterias elétricas. Segundo a comunicaçã­o mantida com o comando da força naval, mantinha profundida­de de periscópio, cerca de 15 metros. Nesse momento, pode ter havido a explosão. O submarino é antigo. Começou a ser construído em 1974, na Alemanha, pela Thyssen-Nordseewer­ke, mas só foi entregue em 1985 – entre esse período houve a Guerra das Malvinas, em 1982. Da classe TR-1700, de 2.100 toneladas, “gêmeo” do Ara Santa Cruz, o submarino é um modelo adaptado a especifica­ções da Marinha argentina. Levava seis torpedos de 533 mm.

Em 2006, o San Juan entrou em um programa de revitaliza­ção e modernizaç­ão. Normalment­e, o prazo para a reforma é de dois anos. Durou sete. Ele só voltou a operar em 2013. Nos estaleiros Cinar Tandanor, recebeu motores novos, consoles eletrônico­s e uma nova central de combate – ao todo, 625 itens foram listados para serem trabalhado­s, entre os quais a substituiç­ão das baterias elétricas. Para facilitar a remoção de seções internas de grande porte, o casco metálico foi cortado ao meio e depois “recosturad­o”. A remontagem começou em 2011. Houve atrasos. Sem dinheiro, o Ministério da Defesa teve de alongar o prazo dos contratos.

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AP Estudo. Imagens da CTBTO mostram registros do que seria uma explosão

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