Nova deflação de alimentos surpreende
Comida fica 0,25% mais barata no IPCA-15, que registra taxa de 0,32%; nesta época do ano, normalmente, preço dos alimentos tende a subir
Uma nova rodada de reduções nos preços dos alimentos deve ajudar a compensar a pressão de preços monitorados sobre os indicadores de inflação no País neste fim de 2017. No IPCA-15 de novembro, prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos ficaram 0,25% mais baratos, embora, no geral, o indicador tenha subido 0,32%.
Os produtos alimentícios ficam tradicionalmente mais caros nesta época, por causa da demanda maior e das alterações climáticas do período. Só que este ano as coisas estão diferentes. Sem choques de oferta, os preços mantiveram a trajetória de queda iniciada meses atrás com a safra recorde de grãos.
“Alimentação está voltando a surpreender positivamente. Ainda reflete a safra recorde, o clima favorável e um consumidor ainda reticente em gastar, já que o desemprego segue elevado, apesar dos sinais de melhora. Há indicadores mostrando retomada da atividade, mas nem tanto do consumo”, explicou o coordenador do Índice de Preços ao Consumido (IPC) da Fipe, André Chagas.
Economistas não descartam a possibilidade de que o item “alimentação no domicílio” registre a sétima deflação consecutiva no IPCA de novembro. “Se não fosse o comportamento dos alimentos, a estimativa para inflação (de 2017) seria de 3,5%, agora, deve ficar perto de 3%”, disse o economista Luiz Roberto Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais (CCS) da PUCRio. “Talvez o Banco Central tenha de escrever a carta explicando a diferença.”
Carta. Cunha se referia à justificativa que o BC poderá ter de fazer ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, caso o IPCA feche o ano abaixo do piso de 3%, mínimo da meta de inflação.
Em outubro, o anúncio de reajustes na conta de luz levou economistas a apostarem menos num IPCA abaixo de 3%. De fato, no IPCA-15 de novembro, metade da alta de 0,32% foi decorrente do aumento de 4,42% na energia elétrica. Gasolina e gás de botijão, que têm sido reajustados pela Petrobrás, também ficaram mais caros.
Foi aí que os alimentos ajudaram a conter a inflação. Em 12 meses, esse grupo acumula queda de 2,31% no IPCA-15 até novembro. A alimentação consumida dentro de casa teve redução de 0,45% no mês e, em 12 meses, recua 5,27%.
“Há vários itens com queda de preços, enquanto outros estão desacelerando o ritmo de alta. Houve um choque positivo importante, e a história é que continua surpreendendo para baixo”, disse o coordenador do IPC-S da FGV, Paulo Picchetti.
No IPC-Fipe da segunda quadrissemana, 8 entre os 10 itens com maior contribuição negativa são do grupo Alimentação. “Todas as proteínas de origem animal, com exceção do frango, estão recuando”, disse Chagas, coordenador do IPC-Fipe.