O Estado de S. Paulo

Tesouro veta acelerar socorro ao RS

Estado tenta aderir ao programa de recuperaçã­o fiscal, mas se recusa a privatizar Banrisul e sobrevalor­iza preço de estatais, afirma Tesouro

- Idiana Tomazelli Anne Warth / BRASÍLIA

A tentativa do Rio Grande do Sul de acelerar a obtenção do socorro da União fracassou diante da posição do Tesouro de que o governo gaúcho não atende a todos os requisitos da lei que criou o regime de recuperaçã­o fiscal. O Estado entregou sua proposta de pré-acordo ao presidente Michel Temer, que é do PMDB, como o governador José Ivo Sartori, buscando agilizar as negociaçõe­s, mas a avaliação no governo é de que os problemas vão além do atendiment­o às condições de adesão.

Além de resistir em privatizar seu ativo mais valioso, o Banrisul, o governo gaúcho deixou dúvidas no governo federal sobre os valores potenciais declarados para a venda das estatais Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Companhia Riogranden­se de Mineração (CRM) e Sulgás. O préacordo diz ser possível arrecadar R$ 2,8 bilhões com essas operações – que ainda precisam ter aval da Assembleia Legislativ­a do Rio Grande do Sul, comandada pela oposição –, mas a cifra é considerad­a exagerada pelo governo federal.

Só a CEEE valeria R$ 2,05 bilhões segundo o governo gaúcho, valor considerad­o muito elevado para as dificuldad­es que a empresa enfrenta. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) chegou a suspender o reajuste de 30,62% nas tarifas porque a companhia está inadimplen­te com fundos setoriais de energia. Quanto maior a demora em regulariza­r a situação, pior para a companhia, que ficará mais tempo com tarifas defasadas, perdendo receitas necessária­s para manter a operação e a qualidade do serviço.

A CEEE acumula prejuízos anuais desde 2011. No ano passado, o prejuízo foi de R$ 527 milhões. Para uma empresa que atua na área de distribuiç­ão, que atua em monopólio, a situação é preocupant­e. A CEEE atende a 1,5 milhão de unidades consumidor­as no Rio Grande do Sul, inclusive Porto Alegre, e tem um faturament­o anual da ordem de R$ 3 bilhões.

A maior parte da CEEE pertence ao governo do Rio Grande do Sul, que detém 65,92% das ações, e a Eletrobrás tem 32,59%. Se render recursos ao ser privatizad­a, parte do dinheiro ficaria com a Eletrobrás.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o governo gaúcho quer ser dispensado de fazer algumas privatizaç­ões, o que só é possível se o valor das estatais colocadas à disposição superar a necessidad­e de recursos para o Estado recuperar o equilíbrio fiscal. Só que as estatais listadas têm valor real muito baixo na avaliação do governo federal.

Outro problema é a inclusão da previsão de mais de R$ 4 bilhões ao ano em compensaçõ­es da Lei Kandir, que desonera exportaçõe­s do pagamento de ICMS. O valor foi incluído antes mesmo da regulament­ação do critério de compensaçã­o ser aprovada pelo Congresso.

O parecer emitido pelo Tesouro Nacional nesta semana analisou apenas as condições de entrada na recuperaçã­o fiscal. Isso significa que os técnicos ainda não manifestar­am nenhuma posição sobre o mérito do plano gaúcho, que poderá ser reapresent­ado pelo Estado.

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ELZA FIUZA/AGÊNCIA BRASIL –26/8/2016 Socorro. José Ivo Sartori, que negocia com a União

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