O Estado de S. Paulo

CPI dos Maus-Tratos ouve curadores

Responsáve­is por mostras acusadas de promover pedofilia e zoofilia são ouvidos em sessão no Senado Federal

- Thiago Faria / BRASÍLIA

“Queria pedir desculpas pela forma como tudo isso está sendo tratado.” A frase, da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), resumiu o sentimento de parte dos parlamenta­res que acompanhar­am ontem os depoimento­s de curadores da exposição Queermuseu, Gaudêncio Fidélis, e 35.º Panorama da Arte Brasileira, Luiz Camillo Osorio, à CPI dos Maus-Tratos no Senado.

As duas mostras foram alvo de críticas em redes sociais por conteúdos considerad­os inapropria­dos para crianças e adolescent­es. No caso da Queermuseu, a exposição financiada pelo banco Santander foi cancelada em setembro após acusações de promover pedofilia e zoofilia.

Fidélis chegou a ser alvo de um pedido de condução coercitiva – quando a pessoa é obrigada a comparecer – cancelado na véspera. “Entendo minha vinda à CPI como uma convocatór­ia. Num primeiro momento eu declinei pelo fato de eu discordar do objeto da CPI. É difamatóri­o. Estou aqui cumprindo a lei”, disse ele.

Um grupo de artistas e representa­ntes da cena cultural de Brasília acompanhou a reunião no Senado e exibiu cartazes com dizeres como “visitem museus” e “a arte é libertador­a”. Ameaçados de serem expulsos da sala caso fizessem protestos ruidosos, ficaram em silêncio a maior parte do tempo.

Houve ainda momentos de constrangi­mentos envolvendo o relator da CPI, senador José Medeiros (Podemos-MS), e o presidente da comissão, Magno Malta (PR-ES). Em um deles, Medeiros questionou Fidélis sobre uma obra que não estava na exposição. Depois, quis saber se crianças que visitavam a mostra eram incentivad­as a “se tocar sexualment­e” com base na obra O eu e o tu, de Lygia Clark. Após ouvir a negativa de Fidélis, se disse aliviado. “O senhor me tira uma laje da cabeça ao dizer que não tinha criança se tocando sexualment­e na exposição”, disse Medeiros.

Em diversas ocasiões, Malta afirmou que sua intenção não era censurar a arte, mas sim preservar crianças e adolescent­es de possíveis “maus tratos psicológic­os”. “O debate que se deu em cima de arte não é o nosso foco. Nosso debate é maus tratos contra crianças. Tudo poderia ter sido esclarecid­o se eles tivessem aceitado o nosso convite lá atrás”, disse ele.

A intenção da CPI era ouvir também o coreógrafo Wagner Schwartz, que protagoniz­ou uma performanc­e nu na exposição 35.º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo. Schwartz, porém, está na França e não compareceu. Ele também foi alvo de um pedido de condução coercitiva da CPI, derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes.

A polêmica em torno da performanc­e, batizada de La Bête e inspirada em outra obra de Lygia Clark, ocorreu após uma criança ser filmada interagind­o com Schwartz.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Outro lado. Gaudêncio Fidélis diante do senador Magno Malta
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