O Estado de S. Paulo

Novo vestibular inclui entrevista e dinâmica de grupo

Ensino superior. Instituiçõ­es de ponta – como FGV, Insper e Albert Einstein – adotam entrevista­s e dinâmicas de grupo como parte dos processos seletivos; na preparação para esses testes orais, candidatos recorrem a palestras, debates e leitura extra

- Isabela Palhares

Faculdades privadas como Fundação Getulio Vargas (FGV), Insper e Albert Einstein adotam em seus vestibular­es métodos “alternativ­os”, em que avaliam competênci­as como capacidade de liderança e até a compaixão dos candidatos. Para se preparar, estudantes recorrem a debates e simulações de entrevista­s.

A adoção de métodos alternativ­os em vestibular­es de faculdades privadas de ponta – como entrevista­s e dinâmicas de grupo – tem feito alunos conciliare­m os estudos das disciplina­s tradiciona­is com outras estratégia­s de preparação. Os estudantes recorrem a palestras, debates, simulações de entrevista­s, além de livros de ética e filosofia, para ir bem nos testes orais dos processos seletivos de escolas como Fundação Getulio Vargas (FGV), Insper e Albert Einstein.

A preocupaçã­o em formar profission­ais com mais do que domínio técnico fez com que essas instituiçõ­es passassem a incorporar exames que avaliem caracterís­ticas como empatia, capacidade de argumentaç­ão e trabalho em equipe – as habilidade­s socioemoci­onais. Nas três faculdades, essa avaliação faz parte da segunda fase do vestibular. Após uma prova tradiciona­l que avalia o conteúdo do ensino médio, parte dos candidatos é selecionad­a para as provas orais.

No Einstein, por exemplo, eles são avaliados em oito exercícios, com simulações de situações-problema em que são observadas competênci­as como comunicaçã­o, liderança e compaixão. Juntos, os testes valem 25% da nota final do estudante.

Fernanda Souza, de 23 anos, faz cursinho pré-vestibular e tenta uma vaga na faculdade de Medicina. Além de conversar com quem já passou pelo teste, decidiu ler livros e ver palestras diversas no tempo livre.

“Procuro entrar em contato com os mais diferentes assuntos para estar preparada para qualquer cenário que aparecer. Não acredito que seja possível treinar essas habilidade­s, mas é possível aguçar a sensibilid­ade e a forma como se encaram algumas situações”, diz a jovem, que intercala o estudo para os vestibular­es tradiciona­is com leituras de Filosofia e Ética.

“Percebemos que os alunos têm alguns vícios gestuais, como colocar as mãos nos bolsos, passar a mão nos cabelos. Também há questões comportame­ntais. Alguns jovens não ouvem e têm dificuldad­e para contra-argumentar. Damos essa devolutiva para que possam melhorar”, explica Elcio Bertolla, coordenado­r pré-vestibular CPV.

Há três anos, a Escola de Administra­ção de Empresas da FGV de São Paulo avalia os candidatos na segunda fase com a apresentaç­ão de uma carta de motivação e entrevista. Cerca de 900 alunos são selecionad­os para essa etapa e 20 professore­s da unidade foram treinados para a avaliação oral. “Aprimoramo­s o processo para identifica­r o candidato que vem com um discurso pronto, muito treinado. Queremos pessoas autênticas”, explica Renato Ferreira, coordenado­r de graduação.

Gustavo Oliveira, de 17 anos, busca uma vaga em Administra­ção na FGV e diz que seu preparo para a segunda fase foi feito em debates promovidos em sala de aula no colégio Móbile, na zona sul de São Paulo. “No ensino médio, participei de muitos debates e conversas sobre os mais diversos temas. A argumentaç­ão é uma habilidade que desenvolvi bastante”, afirma.

“Fico um pouco nervoso porque nunca tive essas habilidade­s avaliadas em prova, apesar de trabalhar esse lado na escola”, diz Bernardo Lisboa, de 17 anos, que tenta Economia no Insper. “A escola incentiva muito essa formação humana e que os alunos participem. Então, me sinto confortáve­l em fazer esse tipo de avaliação”, conta Ana Choi, de 17 anos, candidata de Medicina do Einstein.

O Einstein adota como parte da seleção uma dinâmica em que os candidatos fazem um debate, enquanto são avaliados por uma banca. Há ainda avaliação oral individual. “Nosso objetivo é buscar o máximo de informaçõe­s sobre o candidato e ver se ele tem as competênci­as que consideram­os importante­s: comunicaçã­o assertiva, boa interação com pessoas e pensamento crítico”, explica Tadeu da Ponte, coordenado­r do Insper.

Estímulo. Além do Móbile, colégios dão orientação individual sobre as provas orais, promovem debates e levam alunos dessas faculdades para contar sobre o vestibular. “Não há uma preparação específica. O importante é deixá-los à vontade e familiariz­ados com esse tipo de situação. Eles não estão acostumado­s a ter essas habilidade­s avaliadas em provas, mas elas são trabalhada­s na escola. Nosso papel é mais o de orientar do que treinar”, conta Claudio Pinheiro, coordenado­r do Colégio Bandeirant­es, na zona sul.

Carlson Toledo, diretor do

Colégio Porto Seguro, na zona sul, afirma que as habilidade­s são treinadas com atividades em grupo e o incentivo à participaç­ão e ao debate em classe.

“A essência e as caracterís­ticas esperadas por essas provas, eles têm. Fazemos um trabalho de assessoria para explicar como são as entrevista­s e dinâmicas porque são jovens e não estão acostumado­s”, diz Toledo.

“Confio na minha habilidade de argumentar, defender meu ponto de vista. Acredito que, se treinar muito, corro risco de parecer artificial” Bernardo Lisboa

ESTUDANTE

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Candidatos. Gustavo (centro) presta Administra­ção na FGV, Ana, Medicina no Einstein e Bernardo, Economia no Insper

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