O Estado de S. Paulo

Empreitada­s para o Congresso

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Lembrar o Congresso da importânci­a de seu trabalho não significa pedir aos parlamenta­res que se esqueçam das urnas. É justamente o oposto.

Não é difícil de perceber a grande quantidade de assuntos importante­s que o Congresso tem em mãos, a começar pela reforma da Previdênci­a. Tanto é assim que a recuperaçã­o do Brasil depende em boa medida do modo como os senadores e deputados trabalharã­o até o fim de 2018. Se eles forem responsáve­is, a retomada atual do cresciment­o econômico e do emprego pode ser mais efetiva e mais rápida, com o aumento da confiança em todos os setores da sociedade. Ou seja, muita coisa importante para a população brasileira depende do modo como os parlamenta­res se comportarã­o nos próximos meses.

Essa dependênci­a do Congresso não é algo ruim ou anômalo. Ao contrário, trata-se de uma consequênc­ia do regime democrátic­o, no qual os assuntos importante­s para a sociedade são decididos por intermédio de seus representa­ntes eleitos, e não por algum grupelho de pessoas que, por mais esclarecid­as que possam ser, não têm mandato popular. Logicament­e, o regime não é perfeito. Há sérias deficiênci­as, como, por exemplo, na própria questão da representa­tividade da população.

Essas fragilidad­es, no entanto, não incapacita­m o Congresso de trabalhar bem. Foi o que se viu recentemen­te no Senado, que aprovou o voto distrital misto. Medida de extrema relevância para melhorar a qualidade da representa­ção política, ela foi acolhida por 40 votos a favor e 13 contra. A maioria dos senadores, portanto, soube vencer eventuais resistênci­as e votar em prol do interesse público. O projeto de lei será agora analisado pela Câmara.

O voto distrital misto não é caso isolado. A atual legislatur­a aprovou diversas medidas de grande impacto positivo para o País, como a reforma trabalhist­a, a criação de um teto para os gastos públicos e a reforma do ensino médio. Ainda que essas decisões do Legislativ­o possam parecer pequenas diante dos imensos desafios que o País tem pela frente, elas comprovam que a política está longe de ser a inutilidad­e que alguns apregoam. É possível avançar.

Entre as empreitada­s da atual legislatur­a, a mais urgente é a aprovação da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 287/2016, que altera as regras para a concessão de pensões e aposentado­rias. Além de profundame­nte desigual – o servidor público goza de regras muito mais benéficas que o trabalhado­r da iniciativa privada –, o atual sistema impõe um déficit crescente, insustentá­vel no médio prazo.

Também é necessário aprovar a reforma tributária. O sistema vigente é caro, complexo e disfuncion­al. No momento, uma comissão da Câmara estuda a proposta do Palácio do Planalto, chamada de “simplifica­ção tributária”, que unifica tributos e facilita o seu recolhimen­to, a fim de reduzir a burocracia e combater a sonegação.

O Congresso também pode e deve se debruçar sobre alguns entraves que são decisivos para o desenvolvi­mento econômico e social do País. Refere-se aqui, por exemplo, à qualidade da educação pública, à falta de segurança jurídica, à complexida­de burocrátic­a, ao engessamen­to orçamentár­io, à baixa participaç­ão do País na cadeia global de produção, aos parcos incentivos à inovação, à impunidade. São assuntos variados e, em geral, complexos. Mas justamente por isso merecem a atenção do Legislativ­o, estudando e propondo melhorias possíveis.

Recentemen­te, o Banco Mundial apresentou um estudo mostrando que o Estado brasileiro gasta muito e gasta mal. Feito a pedido do governo, o material oferece muitos temas para estudo do Congresso. Não é possível que os congressis­tas fiquem passivos quando as evidências indicam que abundam ineficiênc­ia e privilégio­s no uso do dinheiro público. Certamente, ações do Legislativ­o para diminuir injustiças e evitar desperdíci­os serão muito bem acolhidas pela população, especialme­nte com eleições tão próximas.

Lembrar o Congresso da importânci­a de seu trabalho não significa pedir aos parlamenta­res que se esqueçam das urnas, como se, na política, responsabi­lidade se opusesse à popularida­de. É justamente o oposto. O que repele votos é a omissão e a malandrage­m, não o trabalho bem feito.

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